Título: Mais acusações a Bernardino
Autor: Eruza Rodrigues
Fonte: Jornal do Brasil, 04/02/2006, Brasília, p. D3

No último depoimento do ex-secretário de Saúde Arnaldo Bernardino prestado ontem à Comissão Parlamentar de Inquérito a portas fechadas, mais uma denúncia veio à tona. Os integrantes da CPI descobriram que o médico viajou para Maceió, entre 19 e 24 de fevereiro de 2004, quando ainda chefiava a Secretaria de Saúde, às custas do Sistema Único de Saúde (SUS). Em pouco mais de uma hora, Bernardino negou as acusações e falou sobre os documentos obtidos com a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico. - Visitei, em missão oficial, um laboratório que fazia coleta nas áreas rurais e como na semana seguinte era Carnaval, fiquei na cidade - defendeu-se o médico.

A presidente da CPI, Eliana Pedrosa (PFL), contestou a versão, afirmando que as informações foram confirmadas pela ex-assessora de Bernardino, Solange Braga, ouvida nesta quinta-feira. A funcionária também participou da viagem à capital alagoana. A distrital está convencida de o ex-secretário recebeu passagens e diárias, além de ter favorecido o Hospital Santa Juliana, em Samambaia, com o repasse de recursos do SUS, durante a sua gestão, entre 2003 e 2005.

Provas - Para comprovar que os valores pagos ao hospital estão bem acima da tabela estipulada pelo governo federal, a deputa da Arlete Sampaio (PT) analisou dez processos, por amostragem, cujas faturas foram pagas pela Secretaria de Saúde. A relatora constatou que repassaram R$ 845 mil, quando o SUS pagaria R$ 48,4 mil. Isso significa que a secretaria deve restituir ao Fundo Nacional de Saúde R$ 796,6 mil.

- Mais de oito hospitais têm leitos de UTI, mas o Santa Juliana era o único que recebia os pacientes. Espero que a investigação termine e eu possa me defender em um tribunal correto, já que aqui ele é político e, nesse caso, quem tem mais força leva vantagem - afirmou o ex-secretário.

Para Bernardino, a comissão serviu para destrui-lo politicamente e construir palanque para as deputadas. Seu advogado de defesa, André Amaral, também acredita que as questões políticas estavam em jogo, principalmente porque vai disputar, mais uma vez, uma vaga de deputado distrital nas eleições deste ano. Desta vez, pelo PMDB.

- A CPI teve um final melancólico porque não conseguiu provar as denúncias. Tudo que existe é futrica. Em nenhuma gestão houve licitação para os contratos com os hospitais particulares, nem na do atual secretário Geraldo Maciel. A prática é antiga e só o meu cliente virou bandido - enfatizou o advogado.

Relatório - Os trabalhos da CPI devem terminar antes do Carnaval. O relatório, que tem mais de 300 páginas, está quase pronto e é, segundo a relatora, resultado da análise de 100 mil documentos, das 15 diligências e de 223 depoimentos. Segundo Arlete Sampaio, mais de dez pessoas, entre elas Bernardino, serão indiciadas por crimes como formação de quadrilha, peculato, improbidade administrativa e desrespeito ao Código de Ética dos Médicos.