Título: Lula briga por dólares da Argélia
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Fonte: Jornal do Brasil, 09/02/2006, País, p. A5

Comitiva brasileira desembarca no país africano interessada nos US$ 60 bilhões que argelinos investirão em infra-estrutura

ARGEL - No primeiro dia de visita à Argélia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fechou quatro acordos nos setores de transporte terrestre e marítimo, indústria e agropecuária. A visita tem o objetivo de estreitar laços com o país que pretende investir cerca de US$ 60 bilhões em infra-estrutura nos próximos cinco anos e recuperar os anos perdidos com a guerra civil. Pensando no futuro, o presidente aproveitou a viagem para também fazer lobby para as empresas brasileiras.

Dos acordos assinados, o mais importante para a economia brasileira estabelece que a Argélia estudará alíquotas mais baixas para alguns produtos do Brasil. O benefício não vem de graça. Em troca, o país pede apoio do governo brasileiro para ingressar na Organização Mundial do Comércio.

A grandiosidade das obras que o país destruído pela guerra pretende iniciar chama atenção de empresas brasileiras. Dentre os projetos de infra-estrutura destaca-se a construção de uma estrada litorânea de 1.200 quilômetros com custo estimado em US$ 7 bilhões.

A licitação da estrada, conhecida como ''Transmagrebiana'' (porque situa-se na região do Magreb), é um dos principais focos do interesse brasileiro na Argélia. Duas empreiteiras do Brasil, a Andrade Gutierrez e a Odebrecht, estão na disputa por dois dos três trechos em que será dividida a obra. Ontem, representantes das empresas esperavam pelo presidente Lula no aeroporto.

O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, reafirma a importância do contato político com o país para o intercâmbio econômico.

- O presidente da Argélia, Abdelaziz Bouteflika, me disse que a decisão dessa licitação não ia levar em conta apenas os preços. Ele gostaria de dar preferência a países em que a relação tenha uma continuidade - disse Furlan que faz parte da comitiva de sete ministro que viajou com Lula.

Segundo Furlan, o governo também quer aumentar o volume de exportações e a atuação de empresas brasileiras no país africano.

- A Argélia é trivalente: está no Mediterrâneo, a meia hora da Espanha, está no mundo árabe e é um dos principais países da África -afirmou Furlan.

O ministro acrescenta que além dos investimentos em infra-estrutura, o mercado argelino também apresenta posição estratégica.

- Estando aqui, poderíamos influenciar o entorno da Argélia e até criar um fundo de comércio que nos permitirá tornar produtos brasileiros conhecidos ao redor -completou.

No setor agropecuário, a comitiva do governo brasileiro conseguiu convencer a Argélia a retomar o volume de carne vendida entre os países. Este é o ponto mais delicado das negociações já que o país deixou de importar esse tipo de produto depois da constatação de casos de febre aftosa, no ano passado, em Mato Grosso do Sul. A produção industrial também estava na pauta. Um dos itens do acordo visa a fabricação de carros e redução de alíquotas para a importação de bens brasileiros.

Lula foi recebido pelo presidente argelino com honras militares. Esta é a maior visita de chefe de estado à Argélia, desde 2003, quando o presidente da França, Jacques Chirac, esteve no país. Atualmente a Argélia é o segundo maior parceiro comercial do Brasil no continente africano, com negócios em torno de US$ 3 bilhões.

Hoje, o presidente Lula se encontra com os presidentes do Senado e da Assembléia Nacional da Argélia e com o chefe do governo argelino, Ahmed Houyahia. Nas etapas seguintes da viagem à África, a comitiva brasileira visitará Benin, Botswana e África do Sul.