Título: O óleo é paulista. Os royalties, cariocas
Autor: Sabrina Lorenzi
Fonte: Jornal do Brasil, 07/02/2006, Economia & Negócios, p. A17

Principal responsável pelo redesenho do setor petrolífero nacional, a Bacia de Santos responderá por metade da produção de gás e petróleo do país nos próximos dez anos. A estimativa, do diretor de Exploração e Produção da Petrobras, Guilherme Estrella, não deve, contudo, frustrar a população do Estado do Rio. Das 56 descobertas de hidrocarbonetos no local, 25 se encontram no BS-500, pólo de produção situado em frente à Cidade Maravilhosa. Bem em frente às praias de Ipanema e Copacabana. A Petrobras planeja produzir em 2011 pelo menos 20 milhões de metros cúbicos de gás por dia a partir dos campos fluminenses na Bacia de Santos, dois já batizados de Tambaú e Uruguá. O campo de Mexilhão, localizado em São Paulo, concentra outras 15 descobertas entre as listadas pela Agência Nacional do Petróleo (ANP). A produção paulista não ficará atrás, com 15 milhões de metros cúbicos a partir de 2008.

¿ A Petrobras era criticada por manter o foco somente em Campos. Resolvemos investir em outras áreas ¿ conta o executivo.

No rastro da Petrobras, outras petroleiras passaram a adquirir blocos exploratórios em regiões fora de Campos. Daí os pesados investimentos na Bacia de Santos, foco da segunda reportagem de série publicada pelo Jornal do Brasil, Gazeta Mercantil e InvestNews. Nacionalista assumido, Estrella não esconde o incômodo com o avanço das multinacionais sobre o petróleo e gás do Brasil.

¿ Somos ciumentos em relação ao Brasil ¿ avisa Estrella.

É para ter ciúmes mesmo. As maiores petroleiras do mundo escolheram a Bacia de Santos para explorar óleo no Brasil. Shell, Chevron e Esso aproveitaram as primeiras oportunidades para desbravar a região, nos leilões de áreas exploratórias que estrearam a quebra do monopólio da Petrobras, em 1999. A espanhola Repsol e a britânica BG chegaram mais tarde, mas vieram com gás ¿ e para o gás ¿ nos últimos leilões. Os ingleses acharam petróleo antes do gás e comunicou na semana passada a descoberta no BM-S-13. Cautelosa, a empresa prefere falar em ¿apenas um indício de hidrocarboneto que ainda depende de declaração de comercialidade¿.

Dos 18 blocos que a Repsol detém no Brasil, 11 estão na Bacia de Santos, conforme relata o presidente da multinacional, João Carlos De Luca. A espanhola surpreendeu na sétima rodada da ANP e levou oito das 12 áreas de águas rasas arrematadas em Santos. O executivo destaca investimentos de US$ 250 milhões para explorar a bacia nos próximos anos.

A Petrobras gastou somente US$ 130 para retomar na Bacia de Santos o que era seu, à força da Lei do Petróleo. Pelas regras, as empresas devem devolver áreas após delimitar as regiões mais interessantes. Tanta cobiça tem motivo de sobra. A região é promissora tanto pelas reservas gigantes de gás do campo de Mexilhão (provadas até então em cerca de 250 bilhões de metros cúbicos de gás natural) e do BS-500, como pelas recentes descobertas de óleo leve a 6 mil metros de profundidade, a mais nova fronteira do petróleo.

A petroleira encontrou óleo leve ¿ de excelente qualidade ¿ em reservatório ultraprofundo, numa prévia da jazida gigante que espera confirmar a partir de testes em andamento. O gerente executivo de Exploração e Produção da estatal, Francisco Nepomucemo, comemora, entretanto, que se trata de ¿uma nova província petrolífera no Brasil¿.

Na Bacia de Santos, uma camada de sal com metros e metros de espessura separa os reservatórios de petróleo e gás das rochas e do material orgânico que geram petróleo e gás. A crosta de sal, a cerca de 6 mil metros, ¿prendeu¿ o óleo e o impediu de subir.

A descoberta mais profunda de toda a história do petróleo brasileiro foi feita no bloco BM-S-10, diante de Paraty, no Sul Fluminense. A Petrobras é a principal detentora do bloco, com 65% de participação, num consórcio formado com a Partex (10%) e a Bristish Gas (25%).