Título: Previdência é pedra no sapato
Autor: Mariana Carneiro e Juliana Lanzarini
Fonte: Jornal do Brasil, 07/02/2006, Economia & Negócios, p. A20

Afinado com o discurso do chefe, o secretário do Tesouro, Joaquim Levy, disse no Rio que um dos maiores desafios do governo no controle de gastos é a Previdência Social, que apresentou despesa de R$ 146 bilhões no ano passado, crescimento de 7,5% frente ao ano anterior. - Os gastos do governo não são apenas clipes e luz. É preciso olhar de onde vêm as grandes pressões, daí a importância de analisarmos a Previdência - disse Levy.

Segundo ele, os gastos discricionários - que incluem as transferências para estados e municípios - cresceram 4,5% no ano passado e a despesa com pessoal, 4,7%.

Segundo Levy, esses gastos explicam a elevada carga tributária e também a taxa de juros.

- Discutir gasto público em abstrato não vai resolver o problema.

Levy evitou defender uma nova reforma da Previdência. E afirmou que os avanços em gestão no segmento ajudaram a controlar as despesas.

- A governança da Previdência foi modificada. O auxílio-doença, por exemplo, que vinha crescendo a 30% ao ano, em 2005, mudou de tendência, e expandiu-se 17% no ano passado - ressaltou Levy, no Rio para o seminário Cenários da Economia Brasileira e Mundial em 2006.

Para o economista Fábio Giambiagi, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a única forma de o governo manter seus gastos sob controle é estipular um limite constitucional que varie de acordo com o crescimento da economia. Segundo seus cálculos, as despesas do governo cresceram 10% acima da inflação em 2005. Em 2004, essa expansão foi de 7,1%.

- Temos que reduzir os gastos públicos não em termos absolutos, pois ninguém é ingênuo em pensar que isso é uma tarefa simples, mas, sim, limitar o crescimento das despesas de acordo com o crescimento do PIB - disse Giambiagi, no mesmo seminário.

Dele, Levy ouviu a melhor notícia do dia. O economista disse que o país atingiu, em 2005, o melhor nível no indicador endividamento externo dos últimos 50 anos. A relação se dá na relação entre exportações e dívida externa. Foram US$ 120 bi em exportações contra US$ 160 bilhões em endividamento.

- Certamente levarei isso a Brasília. Vejo que o economista também foi arrebatado pelo espírito JK e será muito bom escutar, em Brasília, que nosso endividamento foi melhor que o de Juscelino - divertiu-se Levy.

O secretário do Tesouro, no entanto, discorda da avaliação do economista. Segundo diz, a proposta de fixação de um teto para despesas correntes não só já foi apresentada pelo presidente Lula, como consta da lei de diretrizes orçamentárias (LDO) para 2006. Ela estabelece que governo terá que manter as despesas correntes primárias da União em, no máximo, 17% do PIB em 2006. O limite, no entanto, está longe de ser fixo, uma vez que que a lei do orçamento é rediscutida a cada ano.