Título: Tragédia no Mar Vermelho
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 04/02/2006, Internacional, p. A8

CAIRO - Um ferry-boat com aproximadamente 1.300 passageiros e 100 tripulantes naufragou na madrugada de quinta-feira, no Mar Vermelho, por causas ainda desconhecidas. Até a noite de ontem, 300 pessoas haviam sido resgatadas, segundo a El Salam Transportes Marítimos, empresa responsável pela embarcação naufragada - a segunda de sua frota que sofre esse tipo de acidente. O porta-voz da companhia, Mamdouh Radi, contou que os sobreviventes foram levados para o porto de Safaga, no Egito, onde o ferry Al Salam Boccaccio 98 deveria ter aportado. A Guarda Costeira retirou, até a noite de ontem, 185 corpos do mar.

O ministro dos Transportes do Egito, Mohammed Mansur, por sua vez, declarou que as buscas continuariam durante a madrugada. A esperança de que mais pessoas fossem resgatadas, no entanto, reduzia-se rapidamente, em função do longo período no mar em precários e lotados botes salva-vidas. Segundo a agência oficial MENA, o navio transportava 1.272 passageiros e 104 membros da tripulação. Entre os viajantes havia 1.158 egípcios, 99 sauditas, 6 sírios, 4 palestinos, e um cidadão dos Emirados Árabes Unidos, de Omã, Iêmen, Sudão e Canadá.

Muitos eram peregrinos que voltavam de Meca e haviam prolongado sua permanência na Arábia Saudita, de onde saiu a embarcação. O ferry levava ainda 22 automóveis, 16 caminhões e cinco veículos de transporte de mercadorias. O Al Salam Boccaccio 98 , fabricado na Itália em 1970, deixou o porto saudita de Duba em direção ao egípcio de Safaga, 600 quilômetros ao Sudeste de Cairo, onde deveria ter chegado por volta de 2h.

A embarcação, com trinta anos de idade, desapareceu dos radares pouco depois de partir, às 19h. Na metade do trajeto, enviou um sinal de emergência a outros barcos e postos costeiros, mas que só foi recebida pelo Santa Katherina , um navio que fazia o mesmo trajeto na direção contrária. O S.O.S avisava que o Salam 98 corria risco de afundar rapidamente. Chovia no momento do naufrágio e as condições no Mar Vermelho eram difíceis, com muitas ondas.

Com o apoio de embarcações e aviões, os serviços de emergência egípcios localizaram o ponto onde o casco afundou. Mais tarde, equipamentos detectaram navio a 600 metros de profundidade. Os primeiros barcos de resgate só chegaram a local na tarde de ontem, cerca de 10 horas depois de o Al Salam 98 ir a pique.

Segundo o diretor da Autoridade Portuária do Mar Vermelho, Mahfuz Taha, helicópteros também foram usados para localizar botes de salvamento e corpos, que foram encontrados a 50 milhas náuticas de Safaga. As Marinhas do Reino Unido e dos Estados Unidos enviaram navios à área para dar apoio.

Segundo a porta-voz do governo, Suleiman Awad, a tragédia pode ter sido agravada pela falta de botes salva-vidas. A funcionária informou que o presidente, Hosni Mubarak, ''ordenou uma investigação urgente para determinar as causas do naufrágio''. Awad afirmou ainda que ''a rapidez com que o navio afundou mostra que houve problema técnico''.

- O Al-Salam 98 estava dentro das normas de segurança internacionais - afirmou Andrea Odone, representante da companhia marítima do navio de 118 metros que tinha uma bandeira panamenha. Segundo Odone, o número de passageiros era inferior ao máximo permitido.

O governador da região do Mar Vermelho, Bakr al-Rachidi, decretou estado de emergência nos hospitais da região de Safaga, onde parentes dos passageiros reclamavam da falta de informação:

- Eles ficam nos dizendo para ir embora como se não fôssemos humanos - disse Ali Aboul Azaim, de 19 anos.

- Onde estão os corpos, para onde estão sendo levados os sobreviventes? - perguntava, em vão, Gadir Mohammed.