Título: Banco Central é ilha de otimismo
Autor: Juliana Lanzarini
Fonte: Jornal do Brasil, 04/02/2006, Economia & Negócios, p. A19

O fraco crescimento econômico brasileiro na comparação com outros países emergentes não desanima o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Para ele, as perspectivas para 2006 são boas, depois de um ano de ''ajustes'', como 2005. Meirelles afirmou que a principal contribuição do BC será convergir para as metas.

A expectativa para o avanço do Produto Interno Bruto (PIB) de 2005 é de cerca de 2,5%, depois do forte recuo no terceiro trimestre. Para 2006, a projeção, apesar de maior - 3,5% - está abaixo da dos principais emergentes. Mas isso não tira o entusiasmo do presidente do BC.

- Vemos que o crescimento brasileiro está aumentando em relação ao passado, se aproximando dos patamares de sucesso econômico - ressaltou.

Para Meirelles, a redução da taxa de desemprego, o aumento da massa salarial real, o crescimento da absorção de bens de capital e a redução do risco país serão fatores que alavancarão o crescimento econômico em 2006.

- Temos boas perspectivas de investimentos, o que depende, entre outros fatores, da estabilidade político-econômica. Nós temos uma política fiscal sólida e uma inflação convertendo para as metas a longo prazo - afirmou, citando o saldo comercial positivo de janeiro e o aumento das importações como duas boas notícias para este início de ano.

- O Brasil já está numa rota de desenvolvimento.

Mas analistas presentes ao seminário Perspectivas socioeconômicas para 2006, promovido ontem pela Câmara Americana de Comércio no Rio de Janeiro, discordam da visão otimista de Meirelles. Para Armando Castelar, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), se a economia mundial apresenta um quadro de crescimento, o Brasil está andando para trás.

- Em 2006 o mundo deve crescer 4,3%, enquanto que a nossa expectativa é de apenas 3,5% - alfinetou.

Além disso, Castelar explica que nos últimos anos o Brasil está exportando poupança.

- Não há no Brasil um clima adequado para atrair investimentos, o que faz com que as empresas prefiram investir no mercado externo.

Castelar explicou que os principais obstáculos para o crescimento da economia nacional em 2006 são a baixa taxa de investimento, o aumento do gasto primário corrente - que apresentou um aumento real de 10% em 2005 - e a ausência de reformas. Ainda segundo ele, o desempenho da economia em 2005 só não foi pior devido ao excelente cenário externo.

Para o cientista político Amaury de Souza, da MCM Consultores, só haverá crescimento depois da redução de tributos. Segundo ele, é inaceitável que um país gaste 38% do PIB em impostos. Souza diz que, com a atual carga tributária, o país não deve crescer em 2006.

- O governo precisa aprender a fazer mais com menos dinheiro - disse.