Título: Exportador teme isenção a estrangeiro
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Fonte: Jornal do Brasil, 13/02/2006, Economia & Negócios, p. A20

Invasão de dólares prejudicaria vendas

SÃO PAULO - O projeto de isenções tributárias sobre investimentos, que inclui o fim do Imposto de Renda de 15% para compra de títulos públicos por estrangeiros, e que deve ser anunciado nesta semana pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, vem provocando receio entre os exportadores. Há o temor de que um aumento do ingresso de dólares valorize ainda mais o real. Em alguns setores do governo, a perda fiscal é o principal temor.

Por outro lado, há quem aponte benefícios como a redução dos juros internos, o alongamento da dívida pública e a melhora da percepção de risco do país. É o caso de Caio Megale, sócio da Mauá Investimentos. Para ele, a isenção estimula o apetite do investidor estrangeiro.

- O título prefixado de longo prazo brasileiro paga cerca de 17% e é o melhor ativo disponível hoje.

O objetivo do Tesouro Nacional ao propor a isenção de IR é melhorar o perfil da dívida pública. O sócio da Mauá Investimentos, Caio Megale, diz que, sem imposto, a expectativa é de que o interesse dos estrangeiros pelos títulos brasileiros aumente, levando a uma queda dos juros. Hoje, de todo dinheiro de fora investido aqui, apenas cerca de 15% vão para renda fixa - o resto está em ações, onde os estrangeiros não pagam IR.

A queda dos juros pelo aumento da demanda também é vista pelo ex-presidente da Nossa Caixa, e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), Geraldo Gardenalli, como um dos principais benefícios da medida.

- O governo isenta o investidor estrangeiro do imposto, mas paga menos juros.

Os possíveis impactos do projeto levantam polêmica. O principal seria a supervalorização do real, com uma enxurrada de dólares. Para especialistas, porém, há a possibilidade de o governo intervir, comprando dólares.

O economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, afirma que a única garantia do projeto é a valorização do real - que pode ser vantajosa no curto prazo para segurar a inflação, mas no médio prazo reforça a situação de desequilíbrio da economia. Gonçalves questiona ainda o apetite do investidor por títulos públicos de prazo mais longo.

- Por que o estrangeiro deveria se comportar de maneira diferente do investidor brasileiro, invertendo a lógica do juro no país?

Manoel Felix Cintra Neto, presidente do Conselho da BM&F - uma das entidades que idealizaram o projeto de insenção de impostos para estrangeiros -, não acredita que o aumento da entrada de dólares de investidores estrangeiros vá depreciar a moeda americana.

- O plano é usar este dinheiro extra para recomprar a dívida externa, o que torna o impacto cambial neutro.