Título: Déficit de 6 milhões de moradias
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 08/02/2006, País, p. A2

O pacote de medidas para a construção civil, anunciado com festa e clima eleitoral pelo presidente Lula, será ineficaz na solução do déficit habitacional de seis milhões de moradias entre a população de baixa renda no Brasil. O pacote beneficia a classe média, com poder aquisitivo para aderir ao financiamento imobiliário, mas que não sofre com a falta de um teto para morar.

Lula anunciou que está liberando mais R$ 18,7 bilhões para o crédito habitacional. Deste total, apenas R$ 8,7 bilhões serão destinados à classe média e o restante à população de baixa, sendo R$ 1 bilhão para recuperação de favelas e palafitas.

O economista Alexsandro Agostini Barbosa, da consultoria Austin Ratings, aposta que a demanda pelo financiamento será pequena. Ele explica que a população de baixa renda não tem como comprovar que poderá arcar com a dívida no futuro e continuará sem realizar o sonho da casa própria.

- Todo esse dinheiro vai acabar sendo direcionado para a classe média, que não tem carência de imóveis - explica.

Ainda assim, o economista acredita que Lula poderá colher votos deste pacote de medidas. Isto porque o setor de construção civil tem um enorme potencial de geração de empregos - ainda que de baixos salários - com um pequeno incremento das construções e da venda de material.

O presidente - que posterga o anúncio de que será candidato à reeleição neste ano - poderá tirar, ainda, proveito econômico das medidas. Com a redução de impostos dos materiais de construção, a indústria apresentará melhores resultados. O desempenho da construção civil é responsável por 7,5% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Só no ano passado, ajudou a aumentar em R$ 145 bilhões o total de riquezas geradas pelo país.