Título: Romaria por dólar baixo
Autor: Cristiane Crelier
Fonte: Jornal do Brasil, 13/02/2006, Economia & Negócios, p. A17

Pesquisa permite ao turista brasileiro economizar 5% na compra de moeda, mas bancos fogem do serviço de câmbio

O dólar em queda livre tem incentivado a aquisição da moeda por brasileiros com planos de embarcar para o exterior. A cotação baixa barateia as viagens, o que explica os US$ 1,9 bilhão gastos lá fora em 2005, um recorde em sete anos. Apesar de a moeda ter atingido a mais baixa cotação desde 2001, ainda é possível aumentar a economia com a viagem. Pesquisa realizada pelo Jornal do Brasil mostra uma diferença de quase 5% na cotação entre as agências. Para obter a economia, porém, é necessário disposição - já que poucos bancos prestam o serviço - e cuidado - para evitar a compra de dólares falsos.

Para comparar as cotações, foram percorridas algumas agências dos maiores bancos de varejo no Centro do Rio e em Copacabana, Zona Sul da cidade. A maioria só vende dólares para cliente e, ainda assim, mediante reserva. Apenas o Banco Safra e o Banco do Brasil vendem dólares para quem não é cliente, mas no BB, a taxa de operação é mais em conta para os clientes.

A variação de cotação entre as agências que dispunham de dólares foi de 4,8%, em média. Assim, ao comprar US$ 1 mil, é possível economizar cerca de R$ 110 - dependendo da cotação do dia. As melhores cotações foram encontradas no Santander Banespa e no Unibanco. Das instituições que operam câmbio no aeroporto (BB, American Express e Banco Safra), a melhor cotação encontrada foi a do BB. O banco, porém, cobra uma taxa sobre a operação que, no fim das contas, encarece a operação. Para clientes, essa taxa é de 3% e, para não clientes, é de 4%. Há ainda casas de câmbio e turismo onde é possível conseguir cotações melhores dependendo da quantidade de moeda a trocar.

Para quem quer comprar dólares com segurança, os bancos são a primeira opção. Mas clientes apontam um problema já detectado pelo JB durante a pesquisa sobre cotação: as instituições financeiras não têm muito interesse em prestar serviço de câmbio manual (troca de moeda em espécie).

- Pesquisei a cotação em diversas instituições antes de comprar meus dólares para viajar. Optei pelos bancos por uma questão de segurança, porque eu não quero correr o risco de ser preso no exterior por passar dólar falso sem saber. Mas não foi muito fácil encontrar agências que fizessem o serviço - afirma o brasileiro Bernando Peterli, 22 anos, a caminho da Europa.

O chefe adjunto do Departamento de Controle a Ilícitos e Supervisão de Câmbio e Capitais Internacionais (Decic) do Banco Central, Fernando Celso, diz que a reclamação sobre a dificuldade de encontrar agências de banco que fazem câmbio procede. Segundo ele, não há impedimento legal para os bancos operarem câmbio em suas dependências. O desinteresse em prestar o serviço, em sua opinião, se deve a dificuldades logísticas.

- Pela lei, apenas uma dependência de banco pode registrar operações de câmbio por município. Mas nada impede que as outras agências operem, desde que o registro das operações se concentre na agência que possui a autorização do Banco Central. O problema é que o câmbio manual é oneroso, devido a questões de segurança - comenta.

Segundo Celso, a manutenção de um estoque físico de cédulas dentro de uma agência demanda um esquema especial de transporte, manutenção, equipamentos extras de manuseio e segurança, além de um seguro mais abrangente - o que encarece os custos.

A presença de estrangeiros no país aumenta a oferta de dólar, uma vez que eles trocam a moeda por reais para pagar suas despesas. Muitos estabelecimentos e até prestadores de serviço se dispõem a fazer câmbio. Nas praias, os vendedores ambulantes já têm preço em real e em dólar. E no aeroporto, até os carregadores são indicados, às vezes pelos próprios seguranças, como operadores de câmbio.

- Eu entro no país apenas com dólares, e aqui troco por reais no hotel ou nas proximidades. Quando estou indo embora, se sobrarem reais, prefiro destrocar no Brasil mesmo, porque nos Estados Unidos o câmbio sofre a incidência de impostos elevados, o que encarece a operação - comenta o americano James Adams, 53 anos, que veio ao Brasil a trabalho e aproveitou para conhecer a cidade.

Diante da oferta maior de moeda, porém, é preciso lembrar que o câmbio paralelo (realizado em instituições não autorizadas pelo Banco Central) é uma operação ilegal, na qual há grande risco de obtenção de notas falsas.