Título: Mais um pacote eleitoral
Autor: Karla Correia
Fonte: Jornal do Brasil, 08/02/2006, País, p. A3

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva levou a campanha eleitoral para dentro do Palácio do Planalto ontem, ao anunciar, ao lado de 12 ministros, um pacote de incentivo ao setor de construção civil e à habitação popular que inclui a destinação de R$ 18,7 bilhões em financiamentos. As medidas não só facilitam a compra de imóveis para a população de baixa renda ¿ fatia do eleitorado onde Lula mantém o favoritismo na corrida presidencial ¿ como estimulam um setor da economia com uso intensivo de mão-de-obra, o que terá impacto na geração de empregos. O governo afinou o discurso para já rebater de antemão as críticas de que a receita de mais créditos e menos impostos ¿ linha básica do pacote anunciado ontem ¿ seja uma tática eleitoreira. O ministro das Cidades, Márcio Fortes, fez um balanço de todos os programas desenvolvidos pelo ministério envolvendo o setor de construção civil para concluir que as medidas anunciadas ontem fazem parte de uma seqüência lógica de políticas e ações de governo.

Antonio Palocci, da Fazenda, enfatizou que o governo não lançou as medidas nos anos anteriores porque não havia condições financeiras para tanto. Argumento que foi repetido pelo presidente Lula.

¿ Se não fizemos isso antes é porque não podíamos fazer antes. Estamos fazendo agora porque agora o Brasil está mais preparado do que estava ontem, do que estava antes de ontem para ter um futuro de crescimento duradouro, ter a inflação controlada de verdade ¿ disse o presidente, em seu discurso.

Nada que tirasse da solenidade o clima de campanha. Não faltou sequer uma claque para completar o tom eleitoral do evento. No momento em que o presidente assinava os decretos que integram o pacote, 20 pessoas do Movimento Nacional de Luta pela Moradias se levantaram e entoaram a palavra de ordem ¿Lula de novo, moradia para o povo¿. Convidados para a cerimônia, eles antes visitaram o gabinete presidencial.

¿ Fomos lá para dar força ao presidente Lula, dizer para ele não esmorecer, não desistir da candidatura, que ele terá todo o nosso apoio ¿ disse Edmar Cintra, uma das líderes do movimento.

O governo só economizou na hora de detalhar as medidas. Em vez de fazer um vídeo institucional mostrando a situação do déficit habitacional e as políticas implementadas para resolver os problemas, o Palácio do Planalto optou por exibir uma matéria da Rede Globo, de uma série de reportagens sobre habitação. Cometeu dois deslizes: não pediu autorização da emissora e ainda deixou escapar uma fala do deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ) no fim da matéria, falando que o pacote lançado pelo governo era eleitoreiro.

¿ Não é o caso de comentar, não é? ¿ falou um constrangido Palocci, que faria sua exposição depois da exibição da matéria, diante de uma platéia às gargalhadas.

O conjunto de medidas destina R$ 8,7 bilhões para crédito imobiliário neste ano. Desse montante, R$ 2 bilhões virão da Caixa Econômica Federal e R$ 6,7 bilhões serão liberados por bancos privados. Essa iniciativa, isoladamente, já significará um aumento de 90% sobre a oferta de crédito imobiliário em 2005, e de 400% sobre o crédito existente em 2002, último ano do governo anterior.

De acordo com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, o crescimento na oferta de crédito tem tido impacto positivo nos juros dos financiamentos, que teriam caído, em média, cinco pontos percentuais desde 2002.

O pacote estabelece ainda uma lista de materiais de construção que terão a alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) reduzida ou eliminada. São 28 produtos que constam dessa cesta básica da construção.

Ao explicar porque materiais como o azulejo também serão beneficiados Lula repetiu a frase atribuída ao carnavalesco Joãsinho Trinta: ¿ Quem gosta de miséria é rico. Pobre gosta é de luxo.

Segundo o presidente, os pobres também têm direito de construir casas com material de melhor qualidade.