Título: Lula ensaia recuo estratégico rumo à reeleição
Autor: Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 13/02/2006, País, p. A5

BRASÍLIA - Preocupado com a repercussão negativa, em setores do PMDB, da ofensiva do Planalto para atrair o partido à vaga de vice na chapa da reeleição, o presidente Lula ensaia recuo estratégico. Embora mantenha-se determinado a contar com o apoio formal do partido para se reeleição, o presidente quer evitar movimentos bruscos para não incorrer, segundo um auxiliar, ''no mesmo erro de FHC em 2002 quando implodiu no nascedouro a candidatura de Roseana Sarney pelo PFL''. O resultado da desconstrução da candidatura de Roseana foi uma base governista rachada.

- O presidente não vai impor a vaga de vice ao PMDB. Queremos o PMDB na aliança, mas a decisão do partido, seja qual for, será respeitada - disse um auxiliar do presidente.

Na avaliação de um ministro do governo, uma candidatura pelo PMDB do ex-governador do Rio Anthony Garotinho não seria ruim para o Planalto, pois ''tiraria votos do PSDB'' pelo fato de ele, assim como os tucanos, manterem críticas ao atual governo.

Nos bastidores, no entanto, as negociações com o partido visando a aliança nas eleições de outubro andam a todo vapor. Conforme antecipou o JB há duas semanas, voltou a considerar seriamente a possibilidade de ter o PMDB como vice na chapa da reeleição. Durante a última semana, bateu o martelo em torno da permanência do partido na Esplanada até o fim do governo, tenha o PMDB pré-candidato ao Planalto ou não.

Ou seja, se os ministros da Saúde, Saraiva Felipe, e das Comunicações, Hélio Costa, deixarem os cargos até 31 de março para concorrer em eleições estaduais, o PMDB terá direito a pelo menos duas novas vagas na reforma ministerial. Hoje, o partido também controla o ministério das Minas e Energia, com Silas Rondeau, uma indicação do senador José Sarney (PMDB-AP).

Não está descartada a possibilidade de o partido vir a controlar mais um ministério a partir da desincompatibilização dos ministros candidatos. O Planalto também estuda ampliar o espaço do partido no segundo escalão. Lula pretende entregar ao partido a presidência e pelo menos três diretorias da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT). Uma lista com indicações de nomes já está em poder do presidente desde a semana passada. Um deles é Samir Haten que pode ocupar a presidência da ECT no lugar de Jairo Pohren. O nome conta com a simpatia do presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL).

Além das alianças no plano nacional, o presidente tem aproveitado os encontros com líderes dos partidos da base aliada para montar palanques nos estados. Há duas semanas, além de conversas com Walfrido Mares Guia, Lula recebeu o deputado Eduardo Campos (PSB-PE) e o presidente do PCdo B, Renato Rabelo. A audiência serviu, segundo Rabelo, como ''uma espécie de preparação com os partidos aliados para a campanha eleitoral''.