Título: Alianças acima de qualquer negócio
Autor: Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 13/02/2006, País, p. A5
Planalto busca apoio de partidos como PTB e PP, envolvidos no mensalão
BRASÍLIA - Embalado pela recuperação nas pesquisas de intenção de voto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva intensificou nos últimos dias as negociações para ampliar o arco de alianças em torno da candidatura à reeleição. Depois de fechar com PSB e PC do B, e partir para uma ofensiva junto ao PMDB, Lula trabalha para estender o leque de apoios ao PTB e ao PP, partidos envolvidos nos escândalos do mensalão. O presidente age independentemente da vontade do PT. Os evangélicos do PRB ¿ partido recém-criado do vice-presidente José Alencar ¿ também serão procurados nos próximos dias. Para contar com o apoio dos religiosos, Lula espera a ajuda de Alencar, em quem deve fazer um afago em breve ao nomear o afilhado dele, o ex-consultor jurídico do Ministério da Defesa Artur Vidigal, ministro do Superior Tribunal Militar (STM), numa vaga aberta desde dezembro.
Ao buscar o apoio do PRB, a intenção de Lula é avançar sobre um eleitorado influenciado por Anthony Garotinho, pré-candidato à Presidência pelo PMDB.
¿ Vou discutir com o PT, mas não vou abrir mão de fazer alianças amplas como em 2002 ¿ afirmou Lula em reunião da Coordenação Política, na última semana no Palácio do Planalto.
Obstruído desde as denúncias do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) sobre o mensalão, o diálogo com o PTB foi retomado com toda força e um acordo está prestes a ser sacramentado. Aliado de Jefferson, o ministro do Turismo Walfrido dos Mares Guia (PTB) será responsável pelo entendimento de Lula com o partido.
Walfrido esteve recentemente com o presidente Lula. Na conversa, disse que o fim da verticalização removeu os principais obstáculos que impediam um acerto. O consenso seria mais facilmente alcançado no partido se fosse oferecida à legenda a vaga de vice na chapa da reeleição.
Segundo um ministro do núcleo político do governo, Walfrido trabalha para que ele mesmo seja o nome escolhido como vice de Lula. No encontro, o presidente teria se comprometido a examinar a proposta. O assunto foi debatido na última segunda-feira durante a reunião da Coordenação Política do governo.
No Planalto, comenta-se que o PTB poderia ser uma alternativa caso naufragassem as tentativas de fechar um acordo formal com o PMDB ou o PSB para vice. No PMDB, um dos candidatos ao posto é o presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (AL). O nome do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Nelson Jobim, está praticamente descartado. No PSB, as opções recaem sobre o ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, e o presidente do partido, deputado Eduardo Campos.
À sombra do bom momento ¿ comparável segundo pesquisa Datafolha ao período pré-mensalão ¿ o presidente Lula também reabriu o canal de diálogo com o PP, o qual também pretender atrair para a aliança da reeleição. O principal interlocutor junto ao PP é o ministro da Coordenação Política, Jaques Wagner.
Em recente conversa com auxiliares do presidente, líderes do PP também manifestaram a intenção de indicar um nome para a vaga de vice na chapa de Lula. O presidente do partido, deputado Pedro Corrêa (PP-PE), cujo pedido de cassação por envolvimento com o valerioduto foi aprovado pelo Conselho de Ética, disse ter uma carta na manga para ser apresentada no ¿momento certo¿.
Um nome palatável ao Planalto, especialmente ao ministro Jaques Wagner, é o do deputado Francisco Dornelles (PP-RJ). Ex-ministro do Trabalho, Dornelles por muito pouco não foi parar na Esplanada dos Ministérios na última reforma ministerial. Durante a semana, ele foi recebido em audiência pelo ministro da Coordenação Política.
Embora não seja muito receptivo à idéia de entregar a vaga de vice ao PP ¿ PMDB, PSB e PTB são as primeiras opções ¿ o presidente Lula quer o partido na coalizão. Mesmo que tenha de enquadrar o PT, a quem já mandou recados sobre a necessidade de ampliar o leque de alianças.
O presidente tem dito que não vai deixar de ouvir o PT na hora de definir as composições e o nome para ocupar a vaga de vice. Não pretende, porém, restringir as alianças aos partidos de centro-esquerda como PSB e PC do B.
Se janeiro foi o mês da operação tapa-buraco, no governo fevereiro é considerado o das ¿articulações das alianças¿, etapa que segundo um auxiliar do presidente obedece à risca o cronograma elaborado pelo Planalto até o anúncio oficial da candidatura à reeleição.