Título: Os altos e baixos do presidente Aldo Rebelo
Autor: Karla Correia e Mariana Santos
Fonte: Jornal do Brasil, 13/02/2006, País, p. A2

Comandante da Câmara tem perfil conciliador, mas é criticado por idéias polêmicas

BRASÍLIA - Importante peça do xadrez político jogado pelo Palácio do Planalto, o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), é um personagem polêmico. Apesar do respeito conquistado por conta da serenidade com que comanda as relações entre governistas e oposicionistas, o ex-ministro da Articulação Política e ex-líder do governo é apontado como um dos colaboradores do enorme desgaste sofrido pelo Congresso. Aldo é reconhecido como um líder do governo alojado na presidência da Câmara desde que venceu a disputa pelo cargo em setembro, desbancando a candidatura do deputado José Thomaz Nonô (PFL-AL), com amplo apoio do governo. Sem uma base partidária expressiva o suficiente para lhe dar apoio - a bancada do PC do B tem apenas 10 deputados, o que não chega a representar 2% da Câmara - ele é obrigado a se lastrear pela ala governista, a mesma que lhe garantiu a ascensão por orientação do Planalto. Mas a vitória não afastou a fragilidade de sua sustentação política na Casa.

- Depois do desastre de Severino Cavalcanti, a Câmara precisava reconquistar sua credibilidade e independência. A credibilidade nós recuperamos. A independência não - analisa o líder da minoria na Casa, José Carlos Aleluia (PFL-BA). Em sua avaliação, Aldo mantém a submissão ao Executivo dos tempos em que era responsável pela Coordenação Política do governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

Não é a única impressão nesse sentido. A avaliação de que Aldo é um artífice do Planalto na disputa entre Executivo e Legislativo permeia a Câmara. Iniciativas controversas, como a fracassada proposta de um plantão parlamentar às segundas e sextas-feiras e a falta de habilidade em delimitar a convocação extraordinária - incluindo o fato de ter iniciado o período em uma sexta-feira, quando a Casa está sempre vazia - aumentam a impressão de que o Planalto joga para empurrar a opinião pública contra o Legislativo e tirar de si o peso da imagem negativa do governo depois do escândalo do mensalão. Também entra na conta a inércia sobre o caso José Janene (PP-PR), que desde novembro aguarda resposta sobre um pedido de aposentadoria. Janene responde a processo por quebra de decoro no Conselho de Ética e pode ter o mandato cassado.

Tal estratégia do governo estaria usando Aldo Rebelo como peça fundamental, pois no Senado, diferentemente da Câmara, o governo não conta com maioria.

- O Aldo é vítima dessa política do presidente Lula de sujar a imagem do Congresso e nos fazer parecer culpados da corrupção no país. Resolveram usar a Câmara como Geni - diz Aleluia.

A queixa não é isolada e as cobranças sobre Aldo por atitudes públicas em defesa da instituição têm sido freqüentes. A fala mansa e o discurso pouco contundente do deputado alagoano, que está em seu quarto mandato, têm irritado não apenas a turma da oposição, mas também integrantes da base aliada.

- Estamos indo bem. Mas realmente foi uma medida de desgaste o pedido de presenças às segundas e sextas - admite o líder do PSB, deputado Renato Casagrande (ES).

Apesar das cobranças dos colegas, Aldo é largamente elogiado por seu perfil conciliador, até mesmo pelos mais duros críticos do governo. O pefelista Rodrigo Maia (RJ) destaca a facilidade de diálogo com o presidente, inclusive para ocupar espaço em comissões especiais.

Neste sentido, paradoxalmente é da base aliada que vem a resistência mais acentuada, em especial do PT. Os atritos entre Aldo e o atual líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), são constantes e começaram ainda nos tempos em que Chinaglia teve sua candidatura à presidência preterida pelo Planalto, deixando o caminho livre para a eleição do presidente da Câmara. Atualmente, a extrema proximidade entre Aldo e a cúpula governista estariam influenciando nas atribuições de articulação política desempenhadas por Chinaglia.

Durante a reunião de líderes na presidência da Casa na última terça-feira, para discutir o projeto de que reduz gastos de campanha, o clima esquentou entre os dois governistas. Segundo os relatos de parlamentares presentes, Chinaglia tentava impor como condição para votar a proposta naquele dia a inclusão na pauta do polêmico projeto que regulamenta a gestão de portos secos no país. Irritado, o presidente teria alterado a voz com o petista a ponto de mandá-lo ''calar a boca'' em alto e bom som.

- Aldo funciona como um algodão entre os cristais. Tenta evitar os atritos mas sem poder brilhar - compara o ex-petista, deputado Chico Alencar (PSOL - RJ).