Título: Ministério da Justiça irrita CPI
Autor: Daniel Pereira e Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 11/02/2006, País, p. A3

BRASÍLIA - A animosidade entre a CPI dos Correios e o Ministério da Justiça voltou a ganhar corpo. Além da investigação sobre a lista de Furnas, a atuação do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI) irritou os integrantes da comissão. A repartição é acusada por parlamentares de ser responsável pelo fato de só há duas semanas a comissão ter obtido, de autoridades dos Estados Unidos, a promessa de autorização para acessar dados da conta bancária do publicitário Duda Mendonça no exterior. O DRCI rechaça a acusação e diz que os próprios parlamentares pediram o cancelamento de reunião com a Promotoria de Nova Iorque, marcada para novembro do ano passado, que poderia ter resultado no acesso aos dados ainda em 2005.

Disposta a passar a história a limpo, a oposição ameaça convocar o ministro da Justiça para depor na CPI dos Correios.

- O PSDB insistirá na convocação do ministro Márcio Thomaz Bastos, para prestar esclarecimentos sobre o caso - disse o deputado tucano Gustavo Fruet (PR), sub-relator de movimentação financeira da CPI dos Correios.

No último domingo, o Jornal do Brasil revelou que o promotor de Justiça Adam Kauffmann, assistente do chefe da Promotoria do Distrito de Nova York, Robert Morgenthau, enviou carta ao diretor-geral do DRCI, Antenor Madruga, contestando informações divulgadas sobre a reunião marcada para novembro de 2005. Na carta, Kaufmann diz que na ocasião não houve discussão sobre o pedido da comissão para acessar os dados da conta bancária de Duda Mendonça no exterior porque ''a CPI cancelou a reunião''. O presidente da comissão, senador Delcídio Amaral (PT-MS), afirmou que os parlamentares desistiram da reunião depois de serem avisados pelo DRCI de que os interlocutores da Promotoria de Nova York seriam meros ''assessores''.

- Foi o DRCI que informou que a reunião seria com assessores. Não aceitamos na época que o governo americano colocasse um aspone para receber parlamentares do Brasil - declarou Delcídio.

Por meio de assessoria de imprensa, o DRCI reconheceu ter avisado os parlamentares de que eles não seriam recebidos por Morgenthau, mas por Kauffmann. Além disso, ressaltou a contribuição do diretor-geral do departamento, Antenor Madruga, nas negociações realizadas nos Estados Unidos que resultaram na promessa de compartilhamento com a CPI dos Correios dos dados da conta bancária de Duda Mendonça no exterior. Pelas manifestações dos dois lados, a divergência entre a CPI e o DRCI se resumiria a uma questão de interpretação: se Kauffmann é ou não é um mero assessor.

Para o deputado Gustavo Fruet, outro dado que precisa ser esclarecido é o trecho da carta no qual Kaufmann diz que a coordenadora-geral do DRCI, Wannine Lima, representou os interesses do governo brasileiro ''de forma diligente''. O promotor de Justiça afirma ser ''falsa'' a acusação de ''certos indivíduos'' da Polícia Federal de que Wannine teria obstruído as investigações.

Os partidos de oposição também cobram do ministro da Justiça explicações em relação às investigações realizadas pela Polícia Federal sobre a chamada ''lista de Furnas'', que cita repasses à margem da lei para 156 políticos, com destaque para PSDB e PFL, na campanha eleitoral de 2002.

O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), declarou que a oposição pode votar pela convocação de Márcio Thomaz Bastos porque o ministro ainda não disse em público que a lista é falsa, como teria feito em conversa reservada com o governador de Minas Gerais, Aécio Neves. O requerimento de convocação já foi apresentado e pode ser votado na próxima terça-feira. Se for rejeitado, a oposição cogita, inclusive, apresentar requerimento semelhante na CPI dos Bingos, sob a alegação de que Bastos pode prestar esclarecimentos sobre a renovação do contrato entre a multinacional Gtech e a Caixa Econômica Federal.

- Essa lista é uma fraude grosseira para atingir a oposição. Esperamos uma manifestação urgente do senhor Márcio Thomaz Bastos. Se isso não ocorrer, vamos procurar um fórum próprio para que o ministro venha a uma das CPIs falar sobre o assunto - afirmou o líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN).