Título: Estaleiros fluminenses fora de licitação
Autor: Juliana Lanzarini
Fonte: Jornal do Brasil, 11/02/2006, Economia & Negócios, p. A20

A Transpetro desqualificou ontem dois dos seis grupos que concorrem no processo de licitação para construção de 26 navios petroleiros. De acordo com a subsidiária de transportes da Petrobras, os estaleiros Brasfels/Keppel Fels, de Angra dos Reis, e o Eisa Montagem, da Ilha do Governador, não apresentaram as condições de financiamento.

Os dois estaleiros anunciaram que vão recorrer da decisão dentro do prazo de cinco dias úteis estipulado pelas regras do leilão e impediram a abertura das cartas com as ofertas dos outros concorrentes.

Só foi aberta a proposta feita pelo estaleiro Mauá-Jurong, que, associado aos chinês Maric CSSC, não tem concorrentes para a construção de quatro embarcações para transporte de diesel, gasolina, querosene de aviação, nafta e óleo lubrificante. O consórcio propôs construir os navios a um custo unitário de US$ 83 milhões, considerado alto pela Transpetro.

O presidente da subsidiária, Sérgio Machado, mostrou-se decidido a negociar o preço apresentado pelo estaleiro, praticamente o dobro do valor no exterior, que fica entre US$ 40 milhões e US$ 45 milhões.

Sobre o restante da licitação, que envolve outros quatro tipos de embarcações - Suezmax, Aframax, Panamax e outra para transporte de GLP -, Machado afirmou que não entende por que os dois estaleiros desqualificados tentarão recorrer.

- Nós estranhamos que alguém que não quis apresentar garantias de como seria feito o financiamento esteja entrando com recurso - disse Machado.

A Transpetro manteve na disputa apenas o Rio Naval, do Rio de Janeiro, formado pelo Grupo MPE, Iesa, Sermetal e Hyundai; o consórcio Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão, Aker Promar e Samsung, que terá operações em Pernambuco, e o estaleiro Itajaí, de Santa Catarina, que tenta vencer a concorrência para construir três navios para o transporte de GLP.

Sindicalistas que estiveram presentes ao processo de licitação ontem também estranharam que os estaleiros queiram recorrer da decisão. Eles especulam que as empresas não têm o real interesse em concorrer.

- Se elas não quiseram apresentar os documentos, é porque não querem participar do processo. Sendo assim, por que não deixar que fossem abertos os envelopes? - questionou o presidente da CUT-RJ, Jaime Ramos.

Mas o secretário de Energia, Indústria Naval e Petróleo do Rio de Janeiro, Wagner Victer, pensa diferente. Para ele, a desqualificação dos estaleiros fluminenses beneficia o ''virtual'' consórcio de Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez, que ainda não tem área construída. O secretário teme que, com a continuidade de ''tais práticas de direcionamento para os estaleiros virtuais'', os estaleiros fluminenses fiquem prejudicados e ''voltem a fechar''.

Também ontem, a plataforma P-50 deixou o estaleiro Mauá-Jurong, em Niterói, para complementar os testes necessários para sua liberação definitiva, antes de seguir para o campo de Albacora Leste, na Bacia de Campos. A previsão de entrada em operação é para início de abril. A plataforma, com capacidade para processar e produzir diariamente 180 mil barris de petróleo e seis milhões de metros cúbicos de gás, vai garantir a auto-suficiência sustentável em petróleo para o Brasil.