Título: Urnas ameaçam maioria dos distritais
Autor: Eruza Rodrigues
Fonte: Jornal do Brasil, 12/02/2006, Brasília, p. D1

Está chegando a hora dos possíveis candidatos a cargos eletivos avaliarem suas pretensões políticas. Apesar do registro na Justiça Eleitoral só começar daqui a quatro meses, milhares de postulantes correm o risco de gastar dinheiro na campanha à toa, por não terem condições de vencer nas urnas. A renovação política em todo o Brasil deverá ser expressiva. O índice de substituição no Congresso Nacional e nas Assembléias Legislativa será, em média, de 50%, segundo analistas.

- É um percentual elevando sob qualquer ponto de vista. A tendência é de que a Câmara Distrital seguirá o mesmo caminho, podendo atingir patamares bem superiores, até mesmo 70% - afirmou o cientista político e professor da Universidade de Brasília (UnB) Ricardo Caldas.

Pela avaliação, o cenário na Câmara Legislativa não será diferente. Dos 24 deputados distritais, pelo menos 12 podem ficar fora da lista dos eleitos. Os fatores de insatifação do eleitorado brasiliense, para Ricardo Caldas, são explícitos e vão desde a sensação de inoperância do Legislativo até plataforma política de cada representante eleito pelo povo. Para o professor, o posto, na maioria das vezes, é usado para alavancar negócios, como por exemplo na área imobiliária, além de não serem de interesse público.

- A grande maioria dos distritais trata o trabalho como uma banca de negócios. É o caso da Lei Orçamentária Anual deste ano que foi usada por determinado partido para aumentar o poder de barganha com o governo, obrigando-o a negociar mais cargos e verbas para algumas secretarias - explicou Ricardo Caldas.

Problemas - O cientista político David Fleischer afirmou, no entanto, que outros componentes prejudicarão as campanhas dos atuais parlamentares na Casa. Entre os principais entraves estão as pendências na Justiça, que, segundo ele, são responsáveis pela imagem negativa. Outro empecilho está nos novos nomes que devem inspirar nos eleitores mais confiança, por se tratar de incógnitas.

- Muitos distritais envolvidos em escândalos estão de saia justa junto à opinião pública. Caso semelhante ocorre com parte dos deputados federais. Fora isso, há a renovação natural - analisou Fleischer.

Certos parlamentares podem escapar da morte política. A justificativa para a reeleição, de acordo com David Fleischer, é simples: quem tem dinheiro, consegue comprar uma cadeira de distrital. A tendência de renovação também corre o risco de ser contrariada com os votos cativos de segmentos. Nesse filão, destacam-se as igrejas, os sindicatos e associações e mais recentemente os condomínios, que vêm ser organizando nos últimos dois anos.

Sobreviventes - Em 2002, a tese a dança das cadeiras ficou comprovada. Dos 24 distritais eleitos em 1998, apenas oito conseguiram a reeleição, o que corresponde a renovação de 66,6%. Dois distritais à época - Maria José Maninha e José Tatico - foram eleitos deputados federais.

Os distritais Benício Tavares Anilcéia Machado, Eurides Brito e Odilon Aires, todos do PMDB, Chico Floresta e Paulo Tadeu, ambos do PT, e o ex-distrital Carlos Xavier, cassado em 2003, estavam na lista dos reeleitos para a atual legislatura. O campeão da resistência, no entanto, é deputado José Edmar (Prona), que está no quarto mandato e agora quer entrar na disputa do Buriti.

A cassação de Xavier, em agosto de 2004, trouxe de volta à Câmara Wilson Lima (Prona), um dos derrotados nas urnas. Outro que conseguiu recuperar o mandato foi o deputado Aguinaldo de Jesus (PL), com a morte de Jorge Cauhy.