Título: Riquezas de Machu Picchu
Autor: Sheila Machado
Fonte: Jornal do Brasil, 12/02/2006, Internacional, p. A12

Visitantes se encantam com as bem preservadas ruínas de Machu Picchu, suas tumbas, banhos e templos quase escondidos na floresta, a mais de 2 mil metros de altitude. Mas espantam-se ao não ver tigelas e ferramentas usadas pelos incas até o final do século XV.

Estes artefatos foram levados para New Haven, nos Estados Unidos, pelo historiador Hiram Bingham, que redescobriu a cidadela pré-colombiana em 1911. O transporte do material foi consentido pelo então presidente do Peru, Augusto Leguía. A atual gestão de Alejandro Toledo sustenta que na verdade a carta de autorização era para um empréstimo de 18 meses. Quase 90 anos depois, Lima reúne documentos para entrar com uma ação em um tribunal internacional, a fim de que a Universidade Yale devolva os objetos.

É o mais recente capítulo de uma infrutífera negociação de três anos. Em carta ao governo peruano, em dezembro, Yale ofereceu devolver ''a coleção''. Mas sem nunca ter revelado quantas peças mantém em seu poder, Lima teme que não vá ser totalmente ressarcido.

- Em 2003, Yale organizou uma exibição itinerante por cidades americanas com 250 artefatos. Mas não havia nenhuma múmia, nada de ouro, só um pequeno número de peças de prata - conta ao JB a arqueóloga Mariana de Paese, funcionária do governo encarregada de fazer o levantamento do patrimônio alienado de Machu Picchu.

Segundo a especialista, o Peru acredita que a universidade mantenha nada menos do que 5 mil peças de valor histórico. A universidade, entretanto, recusa-se a fazer o inventário.

- Falta transparência. Há alguns anos, conseguimos encontrar algumas informações no site de Yale. Mas quando souberam que estávamos vasculhando, tiraram a página dos artefatos do ar - critica Mariana.

Para o presidente Toledo - um indígena casado com uma arqueóloga - a recuperação do do patrimônio do Império Inca é questão cultural prioritária de sua administração, que termina em julho. É possível que o processo legal seja iniciado ainda no primeiro semestre.

- Machu Picchu virou um símbolo do orgulho nacional contra a colonização européia invasora - avalia o escritor Roger Atwood.

O plano oficial é que, recuperados, os artefatos inaugurem um museu inca nos arredores das famosas ruínas, em 2011 - centenário do feito de Bingham. E movimente ainda mais o mercado do turismo em Machu Picchu, por onde passam 400 mil turistas por ano, que gastam lá US$ 1,2 bilhão.