Título: Muda a filosofia de combate ao crime
Autor: Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 12/02/2006, País, p. A3

Além dos equipamentos modernos, o governo vai investir pesado em capacitação. Serão criados 14 programas de prevenção em comunidades pobres. Os jovens vão ser instruídos para trabalhar como voluntários e poderão assistir aos eventos esportivos. - Vamos abrir horizontes para os jovens das favelas, expostos ao risco de cooptação pelo tráfico - diz Luiz Fernando Corrêa.

A meta do governo federal é treinar mais de 30 mil pessoas, de policiais a meninos de rua. Os jovens serão, em sua maioria, recrutados em favelas. Terão aulas de idiomas, sobretudo de inglês e espanhol. Além disso, haverá cursos para brigadas de socorro, turismo, hotelaria e até de primeiros primeiros socorros para torcidas organizadas. Em um dos projetos, a missão diplomática de cada país vai adotar uma comunidade pobre, que terá preços acessíveis para assistir aos jogos.

O maior contato com as comunidades, diz Corrêa, é reflexo da inversão completa da estratégia adotada em grandes eventos que já ocorreram no Brasil. Durante a Eco 92, a segurança ''confinava'' as autoridades, através de bloqueios policias e de um sistema de segurança saturado. Agora, o governo não pensa em isolar a área do Pan-Americano, mas em pavimentar e abrir vias de acesso para as comunidades.

O secretário do Ministério da Justiça explica que os Jogos de 2007 mudam o perfil da segurança, principalmente no que diz respeito à relação com o cidadão, ''que hoje está baseada no enfrentamento'', segundo ele.

- O país que sempre apostou em sistemas de contenção e de segurança ostensiva durante grandes eventos vai apostar no mesmo espírito de integração dos jogos. Vamos conter as favelas, incluindo-as nesse processo - explica. - O Estado começa a ir para dentro das favelas, com uma polícia comunitária, e com centros integrados de cidadania, onde o cidadão vai ter os grupos de mediação de conflitos e acesso à Justiça.

Os 10 mil homens da Força Nacional ficarão de plantão durante os jogos e poderão atuar em várias áreas. Esses homens não ficarão instalados todos na cidade após a realização do Pan, mas estarão integrados à nova configuração da segurança pública do Rio, o que vai facilitar eventual arregimentação de emergência para novas missões na cidade. As ações anti-terrorismo já começaram há muito tempo a ser estudadas.