Título: 'A pirotecnia não vai ajudar'
Autor: Juliana Rocha
Fonte: Jornal do Brasil, 12/02/2006, País, p. A5

Entrevista com Lula Vieira

O publicitário Lula Vieira, dono da agência V&S, não se opõe a trabalhar com políticos mesmo depois do escândalo do caixa dois do PT, mas ainda não decidiu se vai entrar na campanha deste ano. Provocado pelo JB, ele refletiu sobre o modelo de campanha que será seguido este ano e garantiu que não haverá lugar para ostentação. Alerta que os fiscais deste ano serão os adversários, que estarão de olho.

- Qual a sua opinião sobre a lei para conter os gastos de campanha?

- Tinha que ser muito mais radical, mas os deputados não quiseram. Não adianta vir com essa hipocrisia de que vai se fazer uma propaganda baratinha, usando o que tem em casa - como faz o Cesar Maia - porque não é verdade. Até acredito que esta campanha vai trazer mais ideologia, afinal, a massa capaz de reeleger o Lula recebe o Bolsa-Família ou teve aumento de salário (mínimo). É a classe média que precisa ser atraída.

- A propaganda na TV e no rádio será mais simples?

- O desafio é fazer uma propaganda que não demonstre ostentação, até porque o público não sabe o que é caro. Sai muito mais barato colocar uma modelo de vestido longo em um cenário chique em Paris - feito de graça no computador - do que montar uma simples animação, que pode custar uma fortuna.

- Como vai ser a fiscalização?

- Os próprios partidos vão fiscalizar os adversários. As equipes terão de ser reduzidas. Em 2002, havia turnos até de maquiadores. Eu, se fosse fazer campanha, exibiria quanto custou o programa no fim de cada horário eleitoral. Os valores iriam horrorizar o público, mas são preços de mercado. Para quem ganha R$ 2 mil por mês trabalhando 14 horas por dia dirigindo um taxi, o custo é irreal.

- Afinal, quanto custa a propaganda no horário eleitoral?

- Posso chutar R$ 10 milhões para cobrir todos os gastos, mas como a arrecadação de campanha vai ser menor, os preços também estarão menores, inclusive do publicitário.

- Qual será o modelo deste ano?

- Não tem ninguém que possa prometer mudanças nessa campanha e não será a pirotecnia que vai ajudar. Duda Mendonça só conseguiu adotar o slogan da ''esperança venceu o medo'' porque as pessoas estavam pré-dispostas a comprar essa esperança. O desafio será lidar com a percepção do povo. Questões como emprego, renda e até dívida externa vêm à tona. Você pode dizer que o povo é muito primário, fácil de ser influenciado, mas não significa que não queira receber algumas explicações.

- Como substituir os brindes?

- Quer apostar que não serão substituídos? Se o dono do posto da esquina quiser fazer camisetas de apoio ao candidato e pagar por isso, acho que não terão como impedir.