Título: Saddam afronta tribunal
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Fonte: Jornal do Brasil, 14/02/2006, Internacional, p. A14

BAGDÁ - Saddam Hussein e sete colaboradores estiveram no centro de uma enorme confusão, ontem, na abertura da décima primeira audiência de seu julgamento, acusando a corte de tê-los forçado a comparecer. Ao final de três horas, o processo foi suspenso, de novo. Ao chegar à sala, Saddam Hussein, que usava uma vestimenta típica árabe, gritou:

- Abaixo os traidores! Abaixo Bush! Viva a Umma! (nação iraquiana).

Todos os acusados afirmaram terem sido conduzidos à audiência à força.

- Você não é ninguém! Tenha vergonha! Fui forçado a comparecer diante deste tribunal. Exerça suas prerrogativas e me julgue à revelia - gritou o ex-ditador.

A desordem reinava na sala. Barzan al-Tikriti, meio-irmão do presidente deposto, brigou com guardas que o obrigaram a se sentar:

- Não quero estar aqui. Envergonhe-se de sua virilidade! Você é um juiz militar - gritou, antes de se sentar no chão, de costas para o juiz.

- Vamos agir pelos procedimentos e não toleraremos nem discursos políticos nem entraves que vocês impõem. A corte vai aplicar a lei àqueles que tentam sabotar o trabalho - reagiu o juiz Rauf Rachid Abdel Rahman.

Sem os advogados, que decidiram boicotar a audiência depois de sofrerem agressões da platéia, o promotor perguntou se os acusados aceitavam defensores públicos.

- Queremos aqueles que escolhemos - respondeu Saddam. - Eles foram agredidos na corte diante de vocês, como Barzan também. Isto não é um tribunal, é uma brincadeira.

O meio-irmão do presidente sofre de câncer no cólon, e pediu para ser poupado.

- Estou doente, estou morrendo, deixem-me morrer com a minha família -disse.

O juiz informou que faria com que ele fosse examinado. Os ex-homens fortes do Iraque são acusados do massacre de 148 xiitas em 1982 na cidade Dujail, ao norte de Bagdá.