Título: Vítima teme pela vida se ex-marido for solto
Autor: Cristiane Madeira
Fonte: Jornal do Brasil, 14/02/2006, Brasília, p. D4
A mulher que levou cinco tiros no estacionamento da faculdade IESB prestou depoimento durante três horas ontem no Tribunal do Júri de Brasília. Roseni Miranda Ribeiro, 38 anos, negou ter tido um caso com o professor Elídio José Gonçalves, 53 anos, morto na mesma noite pelo ex-marido dela, João Xavier Ribeiro, 50 anos. O crime aconteceu no dia 2 de dezembro de 2005. A mulher contou que o ex-companheiro sempre foi agressivo e que a ameaçava em todos os sentidos. Dizia que se ela tentasse a separação, ele a mataria, ou então a deixaria sem o carro, emprego, apartamento e até sem as filhas.
Roseni falava com certa dificuldade em razão da lesão na corda vocal esquerda, adquirida depois de ser baleada. Além dessa seqüela, ela teve duas costelas quebradas, uma perfuração no pulmão, entre outros ferimentos.
Segundo Roseni, João Xavier repetia sempre que, morta, ela valia R$ 200 mil, montante do seguro de vida que tinham feito. Havia uma apólice em nome dela, da qual era ele o beneficiário, e outra em nome dele, em que ela seria beneficiada.
- O seguro venceu em outubro do ano passado, ele insistiu em renovar mesmo depois da proposta de separação. O dele foi renovado mas o meu não, porque foi rasurado e a seguradora recusou. Sempre fui ameaçada, mas nunca denunciei por medo. Temo pela minha vida caso ele seja solto. Vai querer acabar com o que não conseguiu fazer aquele dia, vai me matar - disse a mulher.
Roseni pediu a separação de corpos em outubro de 2005, um mês antes do crime, mas o pedido só foi aceito pela Justiça depois da tentativa de homicídio. Antes disso, ela tentou se separar outras seis vezes, sendo quatro delas por intermédio de advogados.
A mulher disse que, apesar de estudar de manhã, foi até o IESB à noite, por volta das 21h40, para pegar um livro que tinha solicitado à biblioteca. Ao chegar, encontrou o professor no estacionamento da faculdade. Elídio e Roseni conversavam, dentro do carro dela, sobre as bancas de monografia de que ele acabara de participar, quando João Xavier ligou do celular, perguntando onde ela estava, e pediu a Roseni que o buscasse no aeroporto dentro de 40 minutos. Ela disse que iria, mas ao desligar o telefone, a porta do carro foi aberta com violência. Era Xavier, que estacionara logo atrás.
- O professor e eu ficamos assustados, achando que poderia ser um assalto. Elídio desceu do carro e Xavier perguntou-lhe o que ele era meu. O professor respondeu que era um conhecido. Então Xavier voltou a seu carro, pegou o revólver e começou a atirar. Levei cinco tiros e fiquei oito dias hospitalizada - relatou.