Título: As razões da ''virada''
Autor: Fernando Nagakawa
Fonte: Jornal do Brasil, 15/02/2006, País, p. A3

Os tucanos e pefelistas se deliciaram com a queda de Lula nas pesquisas, quando o escândalo do mensalão estava no auge. Agora se mostram preocupados a ponto de duvidar até da veracidade dos números da pesquisa CNT/Sensus, que mostram a rápida recuperação dos índices do presidente. Quem estuda o comportamento eleitoral, no Brasil e no exterior, não encontrará, no entanto, nenhum motivo para espanto. Apesar da indignação causada pela forma como o governo e o PT arquitetaram as alianças partidárias, os dados da pesquisa mostram que a maioria dos eleitores não se sentiu ferida de morte, como ocorreu em alguns círculos mais intelectualizados.

A evidência está nos ''critérios de voto'' expostos no levantamento. Quando os pesquisadores expõem ao eleitor critérios para serem levados em conta na hora de escolher o candidatos , dois itens afins, ''problemas sociais'' e ''problemas econômicos'' somam 50,4% das intenções, enquanto dois outros temas próximos, ''moralidade pública'' e ''problemas políticos'' perfazem 40,3%.

Isso quer dizer que o eleitor vota pragmaticamente de acordo com seus interesses imediatos e com as percepções que tem sobre o contexto sócio-econômico do país e a possibilidade de usufruir eventuais melhorias.

Essa constatação não significa, no entanto, que denúncias de corrupção e a decepção com alianças consideradas espúrias não tenham causado estragos e não possam exercer papel mais relevante na hora da decisão. Mas, para isso, a situação deveria chegar a um nível crítico:

- Para mudar drasticamente o quadro, a oposição precisa apresentar o presidente Lula carregando dólar na cueca - brinca o cientista político Marcus Figueiredo.

Para a maioria da população, portanto, o presidente tem tido êxito na tática de se desvencilhar das denúncias, com afirmações como a de que ''se sente traído''. Até agora, como observa Figueiredo, a oposição não conseguiu convencer a maioria da população de que Lula estava no comando ou pelo menos aprovava o método de atração dos partidos aliados.

Do lado ''pragmático'', a melhoria de alguns índices sociais, programas assistenciais e - apesar de todas as críticas - a estabilidade econômica ajudam a explicar a ''virada'' de Lula.