Título: PSDB pedirá auditoria
Autor: Fernando Nagakawa
Fonte: Jornal do Brasil, 15/02/2006, País, p. A3

BRASÍLIA - A vantagem que o presidente Lula abriu contra os tucanos José Serra e Geraldo Alckmin na pesquisa de intenção de votos CNT/Sensus provocou a ira do PSDB, tanto que o líder do partido no Senado, Arthur Virgílio, anunciou que vai pedir uma auditoria do levantamento junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), para comprovar a veracidade dos números. A cúpula do partido entendeu que precisa correr para anunciar o candidato à Presidência, no afã de impedir que o presidente continue sendo o único expoente nacional. A pressa tende a beneficiar Geraldo Alckmin. Virgílio desconfia de que o governo tenha atuado para adulterar a pesquisa a favor de Lula.

- Desse governo eu já vi Santo André (o assassinato do prefeito Celso Daniel), mensalão e toda a sorte de barbaridades. Não duvido nada em se tratando deles - afirmou.

O líder tucano reclama da exclusão de uma pergunta da pesquisa sobre os reflexos da crise política na imagem do presidente Lula. Virgílio nega que a oposição só esteja reclamando devido à recuperação de Lula. Segundo ele, o PSDB tem pesquisas que confirmam a recuperação do presidente mas não tem como confiar no instituto Sensus. O prefeito do Rio e pré-candidato pelo PFL, Cesar Maia, que já declarou apoio à candidatura de José Serra, também duvida.

- Há cheiro de pesquisa forjada. Quem contrata é suspeito, era sócio do Marcos Valério - acusou, referindo-se a Clésio Andrade, presidente da CNT.

O resultado da pesquisa acelerou o movimento das peças no tabuleiro do xadrez político. Mantida a curva ascendente de Lula, lançar Serra, que precisa renunciar à prefeitura de São Paulo, torna-se um movimento de alto risco. Mas abrir mão do candidato que mais se aproxima de Lula nas pesquisas pode soar como uma declaração antecipada de derrota.

Na disputa interna do PSDB, o crescimento de Lula é o trunfo de Alckmin, que não pode ser candidato à reeleição ao governo de São Paulo e não tem nada a perder. Se não triunfar nas urnas, ganha projeção nacional e armazena dividendos eleitorais para 2010.

Na corrida pela Presidência, o governador tem potencial para ser candidato mais forte do que o prefeito de São Paulo. O Planalto, por exemplo, teme uma candidatura Alckmin pelo fato de ele personificar o ''desconhecido''.

- O PT tem estratégia anti-Serra mas não tem anti-Alckmin. Se o governador for candidato, o PT e Lula não estão preparados hoje para enfrentá-lo - observa o cientista político da Universidade de Brasília (UnB), David Fleischer.