Título: PT quer discutir economia com Palocci
Autor: Wallace Nunes
Fonte: Jornal do Brasil, 22/11/2004, O País, p. A3

Diretório Nacional aprova documento que defende retomada da redução ''consistente e responsável'' da taxa básica de juros

O PT dará total apoio à política econômica do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas é necessário haver um pouco mais de convergência para melhorar a política social. A frase foi um dos pontos mais questionados na resolução final do partido, durante a reunião do Diretório Nacional do PT, que neste fim de semana, em São Paulo, aprovou um documento no qual defende a retomada da redução gradual das taxas de juros. O partido decidiu ainda que a política econômica deve ser discutida com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. - Palocci é um companheiro do partido e é natural que o PT discuta com ele temas como a política econômica - disse José Genoino, presidente nacional do partido, acrescentando que o debate deve ocorrer apenas em 2005.

Membro do diretório nacional, Palocci não participou da reunião porque estava em uma viagem de trabalho. Oito ministros compareceram, nenhum deles da área econômica.

- Este debate sempre ajuda. Quem governa precisa ouvir quem não está no governo - admitiu Genoino, quando alguém perguntou se ele espera que a reunião com Palocci ajudará a mudar pontos da atual política.

A aprovação do encontro foi considerada uma vitória por integrantes das alas à esquerda do partido que fizeram duras críticas à política econômica e defenderam mudanças contundentes na sua condução.

A proposta de resolução do partido subscrita por seis das alas mais esquerdistas do PT, afirma que a ''herança maldita recebida de oito anos'' do governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso não pode servir como argumento para não se ter mudanças mais profundas. ''Até porque a pior herança é o poder desmedido e a política implementada pelo Banco Central'', diz o texto.

O teor do documento das esquerdas acabou derrotado na votação do diretório mas obteve a adesão de muitos integrantes. Foram 21 votos contra 34 do campo majoritário, que é constituído por correntes internas das quais fazem parte José Genoino, o presidente da Casa Civil, José Dirceu, o senador Aloizio Mercadante, o presidente da Câmara, João Paulo Cunha e pelo próprio Lula.

A corrente O Trabalho ainda apresentou um terceiro texto, que só obteve um voto. A resolução que foi aprovada não agregou nenhum dos pontos principais defendidos pelas esquerdas do partido. E em sua maior parte faz elogios às políticas que vêm sendo adotadas pela equipe de Lula, tanto no campo social quanto econômico.

José Genoino ressaltou que o convite ao ministro da Fazenda foi consenso entre todas as correntes internas da sigla, mas negou que tenha ocorrido por conta do recado da população nas eleições municipais, onde o PT não conseguiu reeleger prefeitos em cidades importantes como Porto Alegre, São Paulo, Goiania e Belém.

Genoino afirmou que a reunião deste fim de semana foi importante, pois ocorre num momento de mudanças dentro do governo. Ressaltou que a política econômica merece aperfeiçoamento e sugestões, mas também o apoio do partido, pois está dando certo.

- É preciso dar prioridade ao desenvolvimento, criação de empregos e superar os obstáculos. É por isso que o PT defende a queda responsável e duradoura da taxa de juro. Outra sugestão é a defesa dos programas sociais, com aperfeiçoamento do gerenciamento e do controle público - afirmou.

O dirigente petista ressaltou também que a legenda realiza um debate democrático e a ala majoritária não aprovaria uma proposta para mudar a política econômica ou pedindo a saída de integrantes do Banco Central, pois seria ''uma agitação sem sentido''. Segundo ele, o partido discutiu indicações que serão levadas ao governo.

O presidente do PT disse que o governo precisa consolidar a maioria parlamentar, melhorando as relações com os partidos da base aliada. Além disso, o partido deve voltar a ter um diálogo positivo com segmentos sociais organizados, intelectuais e opinião pública progressista.

Além da reunião, a resolução do PT diz que o partido ''continuará lutando pela redução consistente e responsável'' da taxa básica de juros, da taxa de juros reais e da taxa de juros de longo prazo, usada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.

-A taxa de juros tem que dar mais sinalizações nesse movimento de crescimento sustentável - argumentou Genoino.

O PT defendeu ainda um reajuste maior do salário mínimo em 2005. A proposta das esquerdas estendeu a reivindicação a ''mudanças imediatas'' na política geral e econômica do governo, e o fim das discussões sobre autonomia do BC.

- Tem que ter mudança social na área econômica, eliminando esse brutal superávit primário inviabiliza políticas sociais - explicou o deputado Ivan Valente (SP).