Título: Muito dinheiro, pouca ação e a imagem desgastada
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 14/02/2006, País, p. A2

O balanço da convocação extraordinária do Congresso, que termina hoje, não chegou a justificar o gasto de R$ 100 milhões que vai para a conta do contribuinte. Longe disso. No primeiro mês, entre os dias 16 de dezembro e 16 de janeiro, a maioria dos congressistas nem precisou ir a Brasília para receber a ajuda extra de quase R$ 13 mil no período. Na prática, quase não houve trabalho. Um dos pontos mais criticados foi a ausência dos integrantes do Conselho de Ética e da Comissão Mista do Orçamento que também tiraram férias remuneradas, embora a apreciação dos processos de cassação e a votação do Orçamento estivessem entre as principais razões invocadas para a convocação. Não houve cassações no período, nem o Orçamento foi votado. Ontem, o presidente do Conselho de Ética, deputado Ricardo Izar (PTB-SP), admitiu que a convocação não ajudou o andamento dos processos de cassação. Já o presidente da Comissão Mista de Orçamento, senador Gilberto Mestrinho, (PMDB-AM) afirmou que a proposta deverá estar pronta para votação em plenário na próxima quinta-feira. Se não der tempo, no entanto, de aprovar até este prazo o relatório geral, a votação ficará mesmo para os primeiros dias depois do carnaval. A divulgação em janeiro das listas de faltosos se transformou no primeiro escândalo do ano, no Legislativo. Alguns parlamentares, 104 ao todo, afirmam que não ficaram com o dinheiro do pagamento extra. Destes, 28 disseram ter doado o dinheiro recebido para entidades assistenciais e educativas. Nos primeiros dias de janeiro, ainda não havia comprovação das doações anunciadas em 40% dos casos. A pressão da opinião pública, diante da indignação causada pelas ausências remuneradas, rendeu frutos: os congressistas votaram e aprovaram o fim do pagamento extra nas convocações e reduziram o recesso, que encurtou de 90 para 55 dias. Da pauta inicial de 96 itens, só 30 foram aprovados na convocação extraordinária, alguns deles importantes para o governo, como o que decretou o fim da verticalização (a repetição obrigatória nos estados das alianças formadas em nível nacional) e o da criação do Fundo de Manutenção para a Educação Básica (Fundeb). A convocação extraordinária mais onerosa da história do Congresso rendeu só 14 sessões. Com a pressão da opinião pública e em pleno ano eleitoral, os deputados resolveram aparecer em massa: no último mês da convocação registraram média recorde de presença na Casa: 80,69%. Número insuficiente para retocar a imagem desgastada.