Título: Nada muda nas comissões
Autor: Luciana Navarro
Fonte: Jornal do Brasil, 10/02/2006, Brasília, p. D3

Frustrada a tentativa do governo de tirar Brunelli da Comissão de Ética

Fracassou a tentativa do governo do Distrito Federal de tirar o deputado Júnior Brunelli (PFL) da presidência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara. O distrital foi reconduzido ontem, por unanimidade, ao posto, um dos mais cobiçados do Legislativo, que tem o poder inclusive de autorizar a Justiça a abrir processo contra o governador Joaquim Roriz (PMDB) e a sua vice Maria de Lourdes Abadia (PSDB), que assume o Palácio do Buriti em 1º de abril. Depois de muita conversa, os parlamentares da base governista não chegaram a um consenso e resolveram manter o compromisso firmado entre os integrantes da extinta Frente Democrática, o grupo composto por PFL, PT, PP e Prona no final de 2004 para eleger a atual Mesa Diretora. Com isso os membros das nove comissões permanente foram todos mantidos. A decisão não agradou a todos.

Visivelmente irritada, a líder do governo, Anilcéia Machado (PMDB) se retirou do plenário durante a votação que elegeu Brunelli com cinco votos. Ao ver a atitude da peemedebista, o presidente da Câmara, Fábio Barcellos (PFL), convocou a suplente Maria da Guia para colocar na urna o seu voto. Os outros quatro integrantes da CCJ - Chico Vigilante e Chico Leite, do PT, Expedito Bandeira (PRP) e Brunelli - também votaram a favor.

- Sou contrária e mantenho a minha posição. Em sinal de protesto, não votei. Essa é uma decisão pessoal e não envolve o governo nem o meu partido - justificou Anilcéia Machado.

Discussão - A briga teve início no final do ano passado, quando Brunelli chegou a ser acusado de ter inserido uma emenda submarina, com a finalidade de beneficiar as instituições religiosas, no projeto de Anilcéia. A medida dispensava alvarás para as igrejas e foi alvo de uma ação direta de inconstitucionalidade (Adin). Uma sindicância na Casa está apurando a fraude, mas não menciona o nome do parlamentar.

- Não devo nada e sei que essa história é fruto de uma perseguição política. Fui reeleito e, em todo momento, busquei o acordo. Se chegasse a abrir mão do cargo, quem assumiria seria o petista Chico Leite e isso não era bom para o governo. Sou um soldado do PFL e ainda estou na base - afirmou Brunelli.

A negociação que garantiu a manutenção do acordo começou cedo, em uma reunião com os deputados. A proposta inicial era eleger o distrital Expedito Bandeira (PRP), suplente do secretário de Infra-estrutura e Obras Rôney Nemer, presidente da CCJ e dar Comissão de Ética e Direitos Humanos para Brunelli. O nome do deputado João de Deus também foi cogitado.

Recusa - O PT não aceitou a oferta, conseguiu a reeleição da petista Érika Kokay e manteve ainda a Ouvidoria e mais duas comissões: Defesa do Consumidor e Economia e Saúde. Sem saída, os sete peemedebistas resolveram recuar e ficaram as mesmas comissões: Segurança, Assuntos Fundiários e Assuntos Sociais.

- Quem saiu perdendo, na verdade, foram PT e o PFL, ao manter uma aliança em ano eleitoral. O PMDB não ganhou nada, até porque não tínhamos o que perder. Dentro da proporcionalidade, ficamos prejudicados - disse Odilon Aires, líder do PMDB.

O deputado Leonardo Prudente continuará no comando da Comissão de Economia, Orçamento e Finanças. Também foram reeleitos os distritais Paulo Tadeu (PT) e Eliana Pedrosa (PFL) para os cargos de ouvidor e corregedor, respectivamente.