Título: Imagens da tortura insuflam revolta
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Fonte: Jornal do Brasil, 16/02/2006, Internacional, p. A9

SIDNEY - O canal SBS da tevê australiana divulgou, ontem, imagens inéditas de abusos de detentos iraquianos na prisão de Abu Ghraib, em Bagdá. O novo escândalo aumentou a raiva de árabes contra os americanos e gerou o medo de uma nova onda de violência no mundo islâmico, inflamado pela publicação das charges de Maomé.

Segundo o programa Dateline , as imagens foram capturadas na época das famosas fotografias de presos sendo torturados inclusive pela soldado Lynndie England, condenada a três anos de prisão. As cenas chocaram o mundo em 2004.

As novas imagens trazem tortura, humilhação sexual e morte. As fotografias e os vídeos de baixa resolução mostram prisioneiros ensangüentados, encapuzados e amarrados muitas vezes com um guarda americano sorridente ao lado.

As fortes cenas incluem mortos, dois detentos nus algemados juntos, presos empilhados, uma cão de guarda colocado cara a cara com um iraquiano, além de vários presos sem roupa cobertos por fezes e um com marcas que parecem de cigarro nas nádegas.

O ódio do mundo árabe, já acirrado pela publicação das charges de Maomé, e a divulgação, no domingo, de fotos de soldados britânicos espancando jovens iraquianos, foi novamente atiçado.

- Essa é a verdadeira feiúra dos Estados Unidos com a qual nenhum país pode competir - afirmou o jornalista árabe Saleh Al-Humaidi. - Os americanos deviam pedir desculpas à humanidade pela mentira de seu governo de que lutam pela liberdade e que invadiram o Iraque para salvar o país da opressão de Saddam.

O mecânico Mehdi Jumbas está se sentindo ''humilhado enquanto iraquiano'':

- O governo devia agir e não deixar isso passar. Da última vez, o que aconteceu? Nada! - queixou-se.

O porta-voz do Pentágono, Brian Whitman, por sua vez, informou que o caso de Abu Ghraib já foi profundamente investigado.

- O departamento acredita que a divulgação dessas imagens vai inflamar e causar violência desnecessária ao mundo.

John Bellinger, assessor do Departamento de Estado, considerou as fotos ''repugnantes'':

- A divulgação das imagens é infeliz e só contribui para reacender as chamas da opinião pública.

A União Americana para Liberdades Civis (ACLU, na sigla em inglês), de Nova York, declarou que Washington deve investigar os abusos com rigor.

- A questão agora é se o governo vai, finalmente, se esforçar para responsabilizar os culpados - avaliou Steven Shapiro, diretor de assuntos legais da ONG.

O produtor do programa ''Dateline'', Mike Carey, disse que obteve um arquivo contendo centenas de fotos, algumas conhecidas e outras inéditas. Carey, no entanto, se recusou a dizer como a tevê australiana recebeu as imagens e ressaltou que outros jornalistas também tiveram acesso ao material. Segundo o produtor, as imagens mostram que alguns presos foram mortos quando os soldados acabaram com suas balas de borracha tentando conter um protesto na cadeia.

As primeiras fotos de tortura, divulgadas em 2004, acabaram por condenar sete guardas de patente inferior, descritos pelo secretário americano de Defesa, Donald Rumsfeld como ''maçãs podres''. Considerado o ''mentor'' das sessões de abusos, o sargento Charles Graner foi punido com 10 anos de prisão. Já oficiais superiores como o general Ricardo Sanchez, comandante americano em 2003, nunca receberam punição. Sanchez, por sinal, teria conhecimento do que ocorria na cadeia.