Título: Políticos apontam saída para crise
Autor: Sérgio Prado
Fonte: Jornal do Brasil, 22/11/2004, O país, p. A4

Intervenção pessoal de Lula seria a principal forma de solucionar divergências parlamentares

Dez em cada dez políticos e analistas afirmam que a crise no parlamento é complicada. As divergências vêm de duas frentes: as emendas parlamentares e o projeto de mudança constitucional permite a reeleição nas Mesas do Senado e da Câmara. No cálculo da paralisia, são mais de 450 propostas e 22 MPs encalhadas.

Entretanto, há saída para essa letargia, apontou o líder do governo na Casa, senador Fernando Bezerra (PTB-RN). O parlamentar entende que só a intervenção pessoal de Lula pode resolver o problema político.

De nada adianta o Palácio do Planalto defender projetos e ter apoio das empresas, se dentro do Legislativo as coisas vão de mal a pior. Assim, o presidente começou a agir.

Começou pela Câmara. A caneta presidencial liberou parte do dinheiro das emendas. Em seguida, as votações recomeçaram, com a aprovação de uma medida provisória que destina R$ 2,5 bilhões para a modernização do parque industrial. Um dia depois, o texto foi votado também no Senado.

Mesmo assim, Lula tem consciência de que só isso não basta. Além disso, seu mandato tem apenas dois anos para construir alguma marca. A votação da reforma tributária, por exemplo, é polêmica e depende de emenda constitucional.

Portanto, para tirar do papel esta promessa de campanha, repetida no dia da posse, Lula precisa arrancar pelo menos 308 votos de deputados e 49 de senadores. Sem a reorganização das bancadas governistas, o projeto ficará travado na comissão especial da Câmara.

Desse texto, depende a unificação do ICMS, que desemboca no Imposto de Valor Agregado, em 2007. Estão na mesma proposta as isenções aos investimentos novos na indústria. O objetivo é dar impulso ao crescimento da produção e de novos postos de trabalho, argumentam os empresários.

Por isso, as mudanças anunciadas até agora nos ministérios vêm ao encontro de uma coalizão partidária. Foi divulgado ainda que a base governista abrigará também o PP na Esplanada dos Ministérios. Tudo leva a crer que o PMDB terá mais espaço no governo.

As cartas estão na mesa e só o tempo dirá se o tom do diálogo escolhido pelo presidente dará resultado.