Título: Guerra pelo controle do tráfico tem 15 anos
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 16/02/2006, Rio, p. A11

A guerra pelo controle do tráfico de drogas nas favelas da Zona Sul teve o seu ápice em abril de 2004, na madrugada da Sexta-Feira Santa, quando traficantes ligados ao Comando Vermelho (CV) invadiram a Rocinha, numa ação que resultou em três mortes. Quatro dias depois, Luciano Barbosa, o Lulu, líder do tráfico no local, foi morto em confronto com policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope). A invasão da Semana Santa foi liderada por Eduíno Eustáquio de Araújo, o Dudu, que chefiou o tráfico na Rocinha até 1997, quando foi preso. A polícia sabia da possibilidade de uma guerra entre traficantes desde o início de 2004, depois que Dudu obteve na Justiça o direito de visitar a família e não voltou. Em abril, o bando dele fechou a Avenida Niemeyer e numa falsa blitz, liderada pelo traficante conhecido como Cuca, foi assassinada a empresária mineira Telma Veloso Pinto, 38 anos, que passava pelo local. Durante a semana seguinte houve mais nove mortes.

Desde então, os remanescentes do bando aderiram à facção Amigos dos Amigos (ADA) e o controle do tráfico passou para o traficante Erismar Rodrigues Moreira, o Bem-te-vi, morto na madrugada do dia 29 de outubro do ano passado. O chefe do tráfico levou quatro tiros e morreu a caminho do Hospital Souza Aguiar, no Centro. No tiroteio, um outro traficante morreu e três moradores foram feridos por balas perdidas.

Com a morte de Bem-te-vi, Orlando José Rodrigues, 27 anos, o Soul, assumiu o controle do tráfico na favela. Dois dias depois, outros cinco traficantes, entre eles o próprio Soul, teriam sido assassinados durante uma disputa interna pelo controle da venda de drogas na Rocinha. Os corpos nunca foram encontrados.

Os confrontos na maior favela da América Latina vêm deixando um rastro de violência e terror há pelo menos 15 anos. Na madrugada do dia 22 de junho de 1998, um intenso tiroteio entre traficantes e policiais militares teve cenas de guerra. No confronto, pelo menos 50 bandidos explodiram granadas, dispararam balas traçantes, incendiaram quatro automóveis e obrigaram a polícia a fechar a Auto-Estrada Lagoa-Barra, numa ação de desafio às autoridades.

Em fevereiro daquele mesmo ano, os traficantes da Rocinha já davam sinais da ousadia. Também em confronto com policiais, o ajudante de garçom José Carlos de Oliveira, 46 anos, morador da favela, sofreu fratura exposta depois de ser atingido por estilhaços de uma granada.

Em junho de 1993, 120 policiais militares e civis ocuparam o morro para por fim à guerra entre as quadrilhas de Lamartine Antônio da Silva, o Aranha, e Eraldo Souza da Silva, braço-direito de Denir Leandro da Silva, o Dênis da Rocinha.