Título: Stédile acusa fazendeiro de ordenar massacre
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 22/11/2004, O país, p. A5

Ministro Nilmário Miranda afirma que mandantes não ficarão impunes

O líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais em Terra (MST), João Pedro Stédile, afirmou ontem, durante o velório de Celso Furtado no Rio, que todos os indícios levam a crer que o fazendeiro Adriano Shafico é o mandante do massacre que deixou cinco sem-terra mortos e outros 13 feridos no município de Felisburgo, no Vale do Jequitinhonha (MG). Na manhã de sábado, um grupo de 15 homens fortemente armados invadiu a fazenda Nova Alegria, próxima à divisa com a Bahia, onde 200 famílias viviam acampadas há dois anos, e atiraram e atearam fogo nas barracas.

A Polícia Militar prendeu, por volta das 19h de ontem, três suspeitos de participarem da chacina. Dois deles são ex-membros do acampamento dos sem-terra, chamado Terra Prometida; o outro é um suposto pistoleiro da Bahia. Segundo o comandante da 48ª Companhia da Polícia Militar de Almenara, capitão Luciano Freire, dois presos teriam sido infiltrados no movimento pelos responsáveis pela chacina para obter informações.

- Estamos exigindo que o Governo de Minas tome as devidas providências para prender os quinze pistoleiros e o mandante. Isso é o retrato do atraso dos fazendeiros, que tentam manter uma terra grilada - disse Stédile.

De acordo com o líder do MST, os representantes do movimento já vinham sofrendo pressões ao longo de dois anos. Ele disse que carros passavam em alta velocidade em frente ao acampamento e alguns adolescentes chegaram a ser seqüestrados.

- O Adriano percebeu que estava sem saída porque era um grileiro e começou a provocar - conta Stédile.

O secretário dos Direitos Humanos, Nilmário Miranda, garantiu que os mandantes da chacina dos sem-terra não ficarão impunes.

- A resposta terá que ser exemplar - garantiu.

Além de Shafico, que está foragido, seu primo, o ex-policial Civil Calixto é outro suspeito de ser mandante do crime. Segundo Nilmário, dois dos cinco sem-terra que morreram durante o massacre já haviam registrado queixa na polícia contra o fazendeiro e seu primo.

Na tarde de ontem, cerca de cem pessoas fecharam os dois sentidos da rodovia MG 050, próximo a Juatuba, com uma árvore, em protesto pela chacina de sábado.

Stédile afirma que os sem-terra acampados na fazenda Nova Alegria estavam esperando o processo de legalização das terras. Um levantamento elaborado pelo Incra atestou que a área é devoluta e pertence ao estado de Minas Gerais.

Nilmário Miranda e o ministro Miguel Rossetto, do Desenvolvimento Agrário, além do presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Rolf Hackbart, e do coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), João Paulo Rodrigues, foram para a região e acompanhar a apuração do caso.

A comitiva do governo federal esteve pela manhã de ontem na sede da Prefeitura de Felisburgo e se reuniu com as equipes das polícias Civil e Militar de Minas Gerais. Também participam das investigações quatro viaturas da Polícia Federal. Nilmário ressaltou que a necrópsia será fundamental para determinar o que ocorreu no local.

Durante uma reunião ontem, em São Paulo, o Diretório Nacional do PT divulgou nota de repúdio às mortes dos sem-terra, classificando os crimes de brutais e exigindo a punição dos responsáveis.