Título: Brasil quer Préval eleito
Autor: Sheila Machado
Fonte: Jornal do Brasil, 16/02/2006, Internacional, p. A7

BRASÍLIA - A renúncia de Leslie Manigat, principal rival de René Préval, e a aclamação deste como presidente, representariam a solução mais adequada para amainar a instabilidade política no Haiti. A análise é do assessor da presidência da República para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, que ontem manteve contato com embaixadores dos países envolvidos na crise.

- Préval obteve maioria expressiva, mas é importante ressaltar que o Brasil não se coloca como autor dessa proposta - avaliou, acrescentando que o governo apenas acredita nessa saída como a mais rápida para o processo de estabilização.

A legislação eleitoral do Haiti contabiliza votos brancos e nulos no cálculo da maioria absoluta de um candidato nas votações. É o que impede Préval - que possui 49,5% dos votos contra os 12% do segundo colocado - de assumir a presidência sem passar por um segundo turno. Segundo Garcia, o Brasil e outros países buscam uma saída legal com a ajuda de políticos haitianos.

- Não se quer mudar as regras do jogo. Fazemos uma consideração política, e esse é um problema que só os haitianos podem resolver - reiterou Garcia.

Outra solução seria convencer os adversários de Préval a renunciarem à disputa, mas a hipótese foi amplamente rejeitada. Sempre enfatizando que o Brasil evita ingerências políticas no Haiti, o assessor do Planalto disse ver como positiva a permanência da força de paz da ONU do país, cujo mandato foi prorrogado até 15 de agosto. Para Garcia, os soldados devem continuar até o restabelecimento da ordem política, num grau razoável, da estabilidade institucional.

- Essa é uma decisão a ser vislumbrada no tempo político da região. Abandonar o país em um momento delicado como este poderia provocar um clima ainda mais grave de violência, a exemplo do que deu margem ao genocídio em Ruanda - ponderou o assessor de Lula.

O assessor citou como precedente as eleições de 2004 na República Dominicana, quando o presidente Hipólito Mejía admitiu ter perdido para o liberal Leonel Fernández, antes que fosse proferido o veredicto da Justiça Eleitoral.

- A crise haitiana não é uma crise que possa ser resolvida simplesmente por maioria. Vai exigir uma grande maioria - advertiu.

No entanto, para o cientista político haitiano Jean Voltaire, proclamar Préval presidente eleito está longe de ser um desfecho democrático.

- É o que ele quer, é para isso que está fomentando os protestos - afirmou ao JB .- Deve-se respeitar a lei, o CEP não pode encerrar a questão antes de contar todos os votos.