Título: Conselho cassa a ética
Autor: Renata Moura
Fonte: Jornal do Brasil, 10/02/2006, País, p. A3

Brasília - Um acordo entre PFL, PSDB, PP e PT livrou o deputado Pedro Henry (PP-PE) do corredor da morte no Conselho de Ética. Ontem, pela primeira vez, os conselheiros derrubaram o voto do relator pela cassação numa sessão polêmica. O resultado foi um placar folgado para Henry, que conseguiu nove votos a seu favor e cinco contra. Mesmo absolvido neste primeiro momento, Henry ainda terá de esperar mais duas sessões. Isto porque um novo relatório pedindo arquivamento do processo deverá ser apresentado pelo deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) e colocado em votação. Se confirmada a maioria a favor do arquivamento, a decisão segue para o plenário. Lá, Henry só será cassado se tiver 257 votos contra o pedido de arquivamento do processo.

A união para salvar Henry seria uma cortesia pelo apoio do PP nos casos dos deputados Roberto Brant (PFL-MG) e Professor Luizinho (PT-SP). Para o PSDB, o acordo pesaria para afinar uma aliança de ''ajuda mútua''. A demonstração de apoio serviria ainda para selar o compromisso de reciprocidade em futuros julgamentos no plenário.

Além do apoio dado a Brant, que por pouco também não foi inocentado no conselho, o PFL teria um acordo pessoal com Henry. Pefelistas apoiariam a absolvição em troca do apoio do PP no estado para eleger o presidente regional do PFL, Jaime Campos, à vaga do Senado.

Acusado pelo ex-deputado Roberto Jefferson de ser um dos distribuidores do mensalão no partido, Henry reforçou a defesa com o apoio incondicional do tucano Carlos Sampaio, que na semana passada pediu a cassação do colega e presidente do PP, Pedro Corrêa. Sampaio apresentou voto em separado, argumentando que Henry não poderia ser condenado por falta de provas.

- Temos convicção de que não conseguimos, e nem mesmo a CPI conseguiu, produzir provas cabais contra o representado - afirmou.

O voto em separado de Sampaio tentava se contrapor ao voto do relator Orlando Fantazzini (PSOL-SP), que utilizou parte de declarações feitas pelo tucano no processo de Corrêa para justificar o pedido de cassação. Fantazzini faz menção a vários trechos do relatório que Sampaio como, por exemplo, a transcrição de depoimentos em que fica claro que Corrêa, Henry e José Janene (PP-PR) eram os interlocutores do partido para tratar de liberação de recursos junto ao governo federal. Por isto, segundo Fantazzini, seria incoerente responsabilizar Corrêa pela doação e não Henry.

- Ora, se todo o partido foi informado, o que dizer do representado, que era líder, e, mais do que isso, um dos interlocutores oficiais do partido junto ao governo, um dos escalados pela bancada para a defesa dos interesses de seus membros? - indaga o relatório.

Também participou da linha de frente em defesa de Henry o deputado Edmar Moreira (PFL-MG). Ele criticou com veemência o relatório de Fantazzini. Disse que nem por ''osmose'', Henry poderia ser considerado um dos participantes do esquema de corrupção montado.

- Tudo bem que o julgamento é político. Mas não pode ser vale-tudo. Isto não aceito - afirmou Moreira.

Indignado com o placar final, Fantazzini criticou os argumentos apresentados pelos colegas que votaram contra seu parecer. Lembrou que, mesmo com a ausência de provas, os conselheiros decidiram pela cassação do ex-deputado petista José Dirceu. E, por isto, o mesmo deveria valer para Henry, uma vez que o processo no conselho não é penal e sim político. Para ele, os indícios apresentados poderiam ser utilizados para comprovar que realmente houve quebra de decoro parlamentar.

Ainda ontem, o conselho colocou em votação o parecer do deputado pefelista Jairo Carneiro (BA), que pediu a cassação do deputado João Magno (PT-MG). A votação foi interrompida, no entanto, por um pedido de vista da deputada Angela Guadagnin (PT-SP).

João Magno contestou o relatório de Carneiro e disse que o pefelista foi contraditório ao pedir sua cassação por um motivo equivalente ao de seu colega de partido Roberto Brant (PFL-MG).

- Querem jogar para os leões a cabeça de um ou de outro. Isto não adianta. Qual a diferença das acusações que pesam contra mim e contra ele (Roberto Brant)? - questionou.