Título: Duda e Dimas na CPI dos Correios
Autor: Fernando Exman
Fonte: Jornal do Brasil, 10/02/2006, País, p. A5

BRASÍLIA - Os integrantes da CPI dos Correios aprovaram ontem as convocações do publicitário Duda Mendonça e do ex-diretor de Furnas, Dimas Toledo, suposto responsável pela lista de caixa dois da estatal. A decisão unânime sinaliza um entendimento entre governo e oposição de que ambos comparecerão à CPI, mas que novas frentes de investigação não serão criadas. Os depoimentos devem ser conduzidos para evitar novos escândalos contra PT e PSDB, respectivamente.

Apesar do consenso, os integrantes da CPI iniciaram uma nova disputa política. Dessa vez, a luta é para definir se o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, será ou não convocado. A oposição deseja colocá-lo no banco da CPI, como o responsável pela Polícia Federal. A PF apura a legitimidade da ''lista de Furnas'' e Thomaz Bastos falaria sobre sua autenticidade.

Querendo evitar mais constrangimentos para o governo Lula, a base aliada tenta evitar a convocação do ministro da Justiça. O líder do PT na Câmara, deputado Henrique Fontana (RS), ponderou que Bastos só deve comentar o conteúdo da lista com dados concretos e oficiais que fundamentem suas declarações. A votação do requerimento que pede a convocação será na próxima semana.

Duda Mendonça compareceu espontaneamente à CPI em agosto de 2005 para acompanhar Zilmar, que havia sido convocada. Na ocasião, ele revelou que abriu uma conta bancária no exterior para receber R$ 10,5 milhões por serviços prestados ao PT durante a campanha eleitoral de 2002. O dinheiro, não contabilizado pelo partido, teria sido enviado a Duda por Marcos Valério Fernandes de Sousa, suspeito de operar o esquema do mensalão e do caixa dois de partidos políticos.

A convocação de Duda tornou-se inevitável quando veio a público que o publicitário teria outras contas no exterior. A votação dos requerimentos para sua intimação foi adiada porque a CPI queria ter certeza de que a Justiça americana liberaria o acesso aos dados sigilosos das contas no exterior.

O presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS), informou ontem que um acordo com os procuradores dos Estados Unidos foi fechado para que a comissão tenha acesso aos dados bancários do publicitário.

O senador disse que os documentos permanecerão no Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), do Ministério da Fazenda, e no Ministério Público. Terão acesso às informações apenas Delcídio, o relator da comissão, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), e os relatores-adjuntos, os deputados Eduardo Paes (PSDB-RJ) e Maurício Rands (PT-PE).

As informações não haviam sido cedidas à CPI porque a Justiça americana temia o vazamento dos dados sigilosos.

- Criaremos procedimentos de vigilância, como a utilização de câmeras de vídeo, para que os documentos não sejam vazados por outras instituições e que a CPI fique com a culpa - disse o presidente da comissão.

Dimas Toledo é suspeito de operar um esquema de corrupção em Furnas. E também de ser o autor de uma lista de 156 políticos que seriam os beneficiados. Entre eles estão figuras importantes da oposição.

Ele nega a autoria do documento. Mas parlamentares da oposição exigiram a presença do ex-diretor de Furnas para que declare que a lista é falsa sob os holofotes da CPI.

- Dimas foi convocado para que déssemos uma resposta política ao fato [divulgação da lista]. Caso contrário, ficaria a imagem de que o estamos protegendo - afirmou o deputado tucano Eduardo Paes.

O líder do PFL no Senado, senador José Agripino Maia (PFL-RN), afirmou que a oposição utilizará os meios possíveis para que o ministro da Justiça fale a respeito da lista. Caso o requerimento seja derrubado na CPI dos Correios, PFL e PSDB tentarão a convocação de Bastos na CPI dos Bingos. Lá, conseguiriam a maioria com mais facilidade.

Em solenidade em Vila Velha (ES), o ministro da Justiça disse que, ''de maneira republicana'', a Polícia Federal ainda investiga a veracidade da lista. Bastos declarou que deseja que seja um dossiê falso.

Também foi aprovado o requerimento para a convocação de Zilmar Fernandes e Armando Correia Ribeiro, sócios de Duda. Os depoimentos ainda não foram marcados.