Título: Presa quadrilha de tráfico de crianças
Autor: Ana Paula Verly
Fonte: Jornal do Brasil, 10/02/2006, País, p. A6

A Polícia Federal prendeu ontem 17 integrantes de uma quadrilha acusada de enviar crianças ilegalmente para os Estados Unidos. Espalhados por sete estados, os integrantes falsificavam documentos para transportá-las e entregá-las aos familiares que residem naquele país em situação ilegal. As investigações apuraram que, desde 2002, cerca de 150 pessoas, a maioria menores de idade, embarcaram nos aeroportos internacionais do Rio e de São Paulo com documentação falsa. O valor do transporte - 13 mil dólares - era pago no reencontro. Com a falsificação de certidões de nascimento e passaportes, a quadrilha criava vínculos familiares entre as crianças e pessoas de poder aquisitivo elevado para obter vistos de turistas.

- Entre os envolvidos, há um advogado, servidores públicos e pessoas com influência em cooptar funcionários da Justiça - afirma o delegado Felício Laterça, chefe do Núcleo de Operações da Delegacia de Imigração.

Segundo o delegado, em conversas telefônicas interceptadas pela polícia, a chefe da quadrilha, Fátima Eliane Taumaturgo de Mesquita, convence os pais de uma criança a pagarem pelo serviço ao informar que trabalhava com um coronel e um chefe de gabinete.

As crianças passavam por uma preparação de três dias em São Paulo para aprenderem a história familiar a ser contada na entrevista no Consulado dos Estados Unidos. Elas também tinham a fisionomia modificada para a ocasião.

- Em um diálogo, um dos acusados diz: 'Preto vira branco. A gente bota maquiagem e muda a criança inteira' - revela Laterça.

A polícia identificou cerca de 50 crianças, a maioria de Minas Gerais, entre os enviados. A investigação começou em outubro de 2005, quando a advogada Valéria Coelho Caldas foi presa com uma criança no Rio de Janeiro. Na época, os policiais já monitoravam os acusados e, por meio de Valéria, chegaram à Fátima, que agia desde 1999. Em dezembro, Rosângela Nazaré de Magalhães Jona foi presa ao tentar embarcar com uma criança, em São Paulo. Respondendo em liberdade por tráfico internacional de crianças, Valéria e Rosângela foram novamente presas ontem no Rio e em São Paulo, respectivamente. Fátima foi presa em Fortaleza, onde é proprietária de uma ótica.

Acusado de ser o chefe do grupo no Rio de Janeiro, o sargento Billy Grahan Pimenta de Mendonça, do Batalhão de Policiamento Florestal e Meio Ambiente, também foi preso, em Barra Mansa, com a mulher, Flávia Pereira Werneck. Segundo a polícia, Billy registrou 12 crianças como filhas, sendo seis delas como gêmeos bivitelinos. Entre os filhos verdadeiros, no entanto, nenhum possui passaporte. Com exceção de Flávia, os acusados deverão ter a prisão preventiva de 30 dias decretada. Para ela e os demais envolvidos - entre eles um oficial de cartório do Tocantins e outro do Ceará -, será pedida a revogação das prisões temporárias de cinco dias. Eles irão responder em liberdade pelos crimes de formação de quadrilha, falsidade ideológica e tráfico internacional de menores.

Durante a Operação Cegonha - nome dado aos encarregados do transporte -, três pessoas foram presas no Ceará, duas em Tocantins, quatro em São Paulo, cinco no Rio de Janeiro, uma no Maranhão e duas na Bahia. Patrícia Fernandes Monteiro, que está nos Estados Unidos, é a única foragida.