Título: Dieta de informações
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 10/02/2006, País, p. A6

No magro café da manhã que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tomou com jornalistas na África, foi econômico ao ingerir calorias e nas respostas à imprensa. Antes mesmo de se sentar à mesa, o presidente fez questão de avisar que não responderia a perguntas sobre política interna. Assim, sem assunto, Lula falou sobre o navio Egípcio naufragado, eleições no Haiti, tudo isso enquanto ignorava bravamente a farta mesa de café. Cumprindo a dieta à risca, o presidente resistiu aos pães, frios, geléias e tomou somente um cafezinho com adoçante.

Tedioso, o café da manhã prosseguiu até que uma repórter quebrou o jejum de perguntas e questionou Lula sobre reeleição.

- Não vou discutir se sou a favor ou contra. Não gostaria que existisse a reeleição, mas no Brasil existe. O presidente não tem que ter pressa de eleição; tem de levar em conta que tem de governar até 31 de dezembro. Eu tenho muito o que fazer - disse o petista.

Para desespero dos assessores, o presidente desrespeitou abstinência de comentários sobre o cenário brasileiro.

- O Brasil tem forte possibilidade de crescimento econômico. Nós poderemos ter um crescimento extraordinário na geração de empregos e distribuição de renda. Agora, não posso permitir que o nervosismo eleitoral faça com que o presidente tire a cabeça do principal, que é a economia brasileira, o povo, o desenvolvimento do Brasil - disse enquanto fumava um cigarrilha holandesa.

A assessoria interveio e Lula voltou a falar de economia. Sem opção, o presidente seguiu discursando sobre a África.

- Não espero facilidade na negociação, porque ninguém cede a ninguém. Ninguém ganha nada se começar negociando de cabeça baixa, dizendo: sou pobre, pelo amor de Deus me dê uma coisinha. O que eles respeitam é a cabeça erguida - afirmou.