Título: Educação sem cara de cursinho
Autor: Branca Nunes e Waleska Borges
Fonte: Jornal do Brasil, 10/02/2006, Rio, p. A8

As direções das duas escolas com melhor média do país no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), ambas no Rio de Janeiro, garantem que não há uma formula mágica para o sucesso dos alunos. No entanto, os primeiros lugares entre as 27 capitais brasileiras seguem alguns princípios semelhantes: tanto a particular Colégio São Bento quanto a pública Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (da Fiocruz) ficam longe da perseguição por altas colocações em vestibulares. O diferencial das escolas cariocas com o melhor desempenho dos alunos é a preocupação com a educação plena - voltada para formação da personalidade. No Colégio de São Bento, que teve a primeira colocação no Enem com a nota 81.9, além das matérias básicas, segundo o reitor, dom Tadeu Albuquerque, os estudantes têm aulas de educação religiosa, francês, filosofia, informática e ainda praticam esportes.

- Não tem receita. Seguimos fundamentos a partir da regra de São Bento de que o jovem é perfectível e educável a caminho da plenitude humana - explica Rosangela de Almeida, coordenadora do ensino médio do Colégio São Bento.

Classificado pela segunda vez com a melhor nota no Enem, o Colégio de São Bento - que teve alunos conhecidos como o compositor Pixinguinha e o humorista Jô Soares - mantém a tradição de 148 anos: não aceita meninas. Segundo o reitor, a presença de meninas e meninos na mesma sala de aula ''tira um pouco de atenção''.

Ele revela, no entanto, que há um plano para o colégio tornar-se misto, mas com salas separadas por sexo. O médico Marcelo Reis, 38 anos, que completou o antigo 2º grau no São Bento, é filho de ex-aluno e pai do estudante Pedro Henrique Brabo, 7 anos. Ele conta que não se surpreendeu com o resultado do Enem. Segundo Reis, desde a sua época de estudante no colégio, não havia a preocupação de treinar alunos para o vestibular.

- A preocupação é com o ensino de qualidade, o que interfere no resultado dos concursos - explica Reis, que passou no primeiro vestibular para medicina na UFRJ com o 12º lugar.

Aluno da 3ª série do ensino fundamental, João Matarazzo, 9, admite: ''Às vezes enjôo de ver só meninos''. Mas completa que não tem vontade de sair do colégio, que cobra mensalidades entre R$ 733,01 e R$ 1.255,74.

- Tenho muitos amigos, gosto de ciências, geografia e das aulas sobre Jesus - anima-se o menino.

A melhor média do Enem de uma unidade de ensino pública também foi no Rio. A Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, da Fiocruz, obteve a média de 79,02 pontos. Segundo o diretor da escola, André Malhão, o êxito dos alunos - que entram na escola através de concurso - deve-se a um projeto tripé que engloba trabalho, ciência e cultura.

- Formamos dirigentes tanto para suas vidas como para a sociedade - explicou Malhão.

No Estado do Rio, foram 153.289 inscritos em 1.808 escolas. O Enem não faz um ranking das escolas que prestaram o exame, mas o município do Rio está na 18ª colocação do estado.