Título: Bando assalta angolanos na Perimetral
Autor: Duilo Victor e Marco Antônio Martins
Fonte: Jornal do Brasil, 22/11/2004, Rio, p. A12

Comissários de bordo iam do Aeroporto Internacional para Copacabana. Ladrões levaram cerca de U$ 20 mil em dinheiro

O intervalo foi de uma hora entre pisar em solo carioca e serem assaltados. Depois de desembarcarem ontem no Aeroporto Internacional Tom Jobim, 20 angolanos que estavam em um ônibus de turismo a caminho de um hotel em Copacabana foram rendidos por três bandidos armados no Viaduto da Perimetral, próximo à Praça Mauá. Bolsas, celulares, documentos e pelo menos US$ 20 mil foram levados pelos criminosos, que usaram um Citroën prata para fechar o ônibus e fugir. As vítimas eram tripulantes da empresa Taag (Linhas Aéreas de Angola) e ficarão no Rio até sexta-feira. Cada uma havia recebido em média U$ 900 para gastos pessoais. De acordo com o motorista do ônibus de turismo que transportava os estrangeiros, Cinésio Jacinto da Silva, depois de passar pela Linha Vermelha com trânsito livre, pouco depois das 6h, o veículo foi interceptado pelo Citroën na Perimetral, logo após ultrapassar um táxi que estava em baixa velocidade. Dos três bandidos armados com pistola que saíram do Citroën, um apontou a arma para a cabeça do motorista e os outros recolheram os pertences das vítimas.

- Eram homens entre 18 e 22 anos e bem vestidos. Gritavam muito, mas não chegaram a machucar ninguém - descreveu Cinésio, que dirigia um ônibus da empresa Rio Tur.

Enquanto os passageiros eram roubados, numa ação que durou pouco mais de cinco minutos, o motorista era obrigado a seguir o carro dos assaltantes. Os bandidos só abandonaram o ônibus quando estavam carregados de bolsas e pertences dos angolanos, próximo ao Aeroporto Santos Dumont.

- Não vi policiamento durante todo o trajeto em que estava em poder dos assaltantes. Nem mesmo onde costumava haver uma viatura, ao lado do Santos Dumont. Esperei 15 minutos até que os policias militares chegassem para nos atender - reclamou o motorista.

A maioria das vítimas já havia visitado o Rio outras vezes. O grupo chegou de Luanda às 5h15 e garante que a repercussão do crime em seu país será a pior possível.

- Muitos dos 300 passageiros que vieram conosco de Luanda nunca voltarão ao Rio quando souberem deste caso. Os canais de televisão brasileiros que são transmitidos para Angola passam todos os dias os mínimos detalhes da violência no Rio e em São Paulo. O caso da turista japonesa esfaqueada em Copacabana foi repetido lá por uma semana - contou uma comissária que disse conhecer várias pessoas que afirmaram que nunca viajariam para o Rio.

Os bandidos fugiram pelo retorno em frente ao Aeroporto Santos Dumont e voltaram pela Perimetral, em diração à Avenida Brasil. Assustados, os passageiros foram levados no ônibus para a Delegacia de Atendimento ao Turista (Deat), no Leblon, onde prestaram depoimento até as 15h. Representantes do Consulado-Geral de Angola no Rio estão acompanhando o caso. O delegado titular da Deat, Álvaro Luiz de Souza, suspeita que, ao contrário do que acontece geralmente com turistas estrangeiros, este caso parece ter sido mais que um crime ocasional.

- O assalto foi planejado por alguém que levantava informações no aeroporto sobre esses angolanos. Não são pequenos ladrões - afirmou, depois de tomar os depoimentos.

No meio da tarde, mais um casal de turistas estrangeiros foi assaltado no Rio. Os alemães Florian Brecht, 32 anos, e Diana Braver, 29, tiveram suas mochilas roubadas quando andavam a pé na rua Evaristo da Veiga, no Centro. Eles foram abordados por dois homens desarmados quando estavam perdidos na rua, tentando ir à estação do bondinho de Santa Teresa. Nas mochilas, havia objetos pessoais e câmeras digitais.

O assalto ao ônibus de angolanos não foi o primeiro ataque ocorrido na Avenida Perimetral, um dos principais acessos ao Centro e à Zona Sul da cidade. Em setembro de 2002, o vice-presidente do parlamento de Angola, Julião Mateus Paulo, e sua mulher, Rosa Cunha, foram vítimas de um assalto em sua primeira visita ao Rio de Janeiro. Pouco depois do desembarque no aeroporto internacional, o casal foi surpreendido, na altura da Praça Mauá. O carro em que estavam foi fechado por três veículos com homens armados. O casal perdeu toda bagagem, os documentos, jóias e cerca de US$ 2,5 mil em dinheiro.