Título: Turistas evitam andar sozinhos
Autor: Camila Pereira
Fonte: Jornal do Brasil, 22/11/2004, Rio, p. A13

Repercussão de casos de violência leva visitantes a buscarem visitas guiadas para percorrer pontos turísticos

Os casos de violência contra turistas na última semana arranharam a imagem do Rio exatamente no período em que a cidade começa a lucrar com a chegada dos visitantes estrangeiros. Apesar de ainda não se ter idéia do impacto negativo de casos como a morte de um espanhol e as agressões sofridas por uma chinesa, quem chega à cidade demonstra preocupação. - O Rio é uma cidade linda, com gente hospitaleira e simpática. Essas características sempre se destacam no exterior. Mas, ao mesmo tempo, conheço muita gente que já foi assaltada aqui e isso deixa uma impressão muito negativa - pondera a portuguesa Marta Niny, 27, de Lisboa, que veio à cidade com a família.

Para tentar reduzir os riscos de imprevistos durante a viagem, os visitantes têm optado por passeios em grupo, com vans que buscam no hotel e percorrem os pontos turísticos com o acompanhamento de profissionais especializados. De acordo com a guia Márcia Lopes, da Angramar Turismo, a procura tem sido maior este ano e há uma recomendação da Embratur para que estrangeiros não andem sozinhos.

- Normalmente, quando viajamos, nós gostamos de fazer passeios sozinhos, andar conhecendo as ruas, com mais liberdade. Mas aqui não tivemos coragem. Achamos que esse esquema de excursão seria mais seguro - explica Paulo Niny, 28, também de Portugal.

E se engana quem pensa que apenas os turistas estrangeiros estão assustados com a violência carioca. O casal de paulistanos Salete Calixto, 23, e Marcelo Ojima, 27, visita o Rio pela primeira vez e também preferiu juntar-se a um grupo a ter que conhecer a cidade por conta própria.

- A imagem que a gente tem do Rio é a que a mídia passa: muita violência, muito perigo. Por isso escolhemos fazer passeios com guias, para ter mais segurança - diz Salete.

Márcia Lopes concorda que o esquema montado pela agência oferece mais segurança. Mas defende que a cidade não é tão perigosa como as pessoas imaginam:

- É claro que sozinhos eles ficam mais indefesos. Mas eu acho que a imagem que a mídia passa da violência é desproporcional em relação ao que realmente acontece.

Imagens são, de fato, as principais fontes de informação dos turistas sobre a criminalidade no Rio. Vídeos e fotos divulgados mundialmente assustam os visitantes.

- Recentemente, o Jornal da Noite, de Lisboa, deu grande destaque às imagens daquele assalto aos turistas na praia do Leblon. Isso nos assusta bastante porque lá é algo muito raro de acontecer, não estamos acostumados - afirma Marta Niny.

A sueca Sandra Grehn, 27 anos e primeira vez no Brasil, também estranha os cuidados ostensivos com a violência, como o pesado armamento usado pela polícia. Ela conta que, no avião, recebeu conselhos sobre como agir na cidade:

- Me disseram que eu não deveria andar sozinha e não deveria deixar dinheiro, máquina ou documentos expostos - conta ela.

As precauções, no entanto, ficam apenas no discurso - pelo menos quando acompanhados da guia. Na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, às 14hs, máquinas fotográficas digitais, mochilas e bolsas eram exibidas sem qualquer sinal de receio.

A curiosidade em relação a aspectos menos nobres da cidade também existe. No percurso entre um ponto turístico e outro, Márcia mostra as favelas e explica que elas são muitas no Rio. Sandra, a sueca, nunca tinha visto uma e não sabia exatamente o que o nome queria dizer. A guia faz questão de explicar.

- Acho importante mostrar todos os lados da cidade e os turistas gostam de compreender melhor nossas questões sociais. Eles adoram o passeio que fazemos pela favela da Rocinha ou quando vamos às quadras de escolas de samba e eles têm a chance de ver a realidade brasileira mais de perto - diz ela.

Mas quando o bondinho do Pão de Açúcar sobe e, do alto, avista-se o Cristo e a Baía de Guanabara, medos e preocupações são esquecidos e os sorrisos não escondem a satisfação. O português José Pina, 78 anos, pela sétima vez no Rio, se declara:

- Vocês moram em uma das cidades mais bonitas do mundo.