O Globo, n. 32.294, 06/01/2022.Política, p. 7

Eleição terá mais regras contra fake news e novos desafios nas redes
Marlen Couto


Atuação mais rigorosa do TSE visa a combater falta de transparência e ação multiplaforma

Em um cenário com as redes sociais cada vez mais relevantes na vida dos brasileiros, as eleições de outubro prometem ter a desinformação como um dos seus principais gargalos. Na comparação com a última disputa presidencial, haverá, de um lado, mais instrumentos jurídicos para combater mensagens falsas e campanhas de ódio. Do outro lado, porém, surgem novos desafios, na avaliação de especialistas.

A falta de transparência das plataformas, principalmente dos aplicativos de mensagens, nos quais a circulação de conteúdo é mais difícil de acompanhar, seguirá dificultando a identificação ágil de mensagens enganosas e a punição de seus responsáveis. Outra fragilidade é a possibilidade de replicação de fake news em diferentes plataformas simultaneamente.

Já o crescimento no país do Telegram, aplicativo russo que não costuma colaborar com as autoridades, e a popularização de táticas de desinformação entre candidatos de diferentes correntes ideológicas serão complicadores adicionais para tornar o ambiente digital menos virulento.

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aprovou resoluções que miram o impacto da desinformação sobre o processo eleitoral e deve adotar uma postura mais rígida. Do ponto de vista regulatório, a sinalização mais recente da Corte é uma resolução que veda a divulgação de “fatos sabidamente inverídicos ou gravemente descontextualizados” que atinjam a integridade do processo eleitoral, incluindo processos de votação, apuração e totalização de votos.

DISPAROS EM MASSA

Fica também proibido o disparo em massa de mensagens em aplicativos como WhatsApp e Telegram para pessoas que não se inscreveram para recebê-las ou a partir da contratação de tecnologias ou serviços não fornecidos pela plataforma e em desacordo com os seus termos de uso. Já a proibição para pagamento de influenciadores digitais por postagens eleitorais ficou mais explícita.

A postura mais combativa do TSE é outra mudança esperada, na comparação com 2018. A Corte cassou pela primeira vez um deputado por propagar fake news sobre as urnas eletrônicas e abriu uma investigação contra o presidente Jair Bolsonaro por ataques ao processo eleitoral.

— O TSE atuou no sentido de criar precedentes para uma atuação mais rigorosa em 2022 e enviar a sinalização para os atores políticos de que não vai tolerar que o pleito seja um vale-tudo. Resta saber até que ponto vai conseguir colocar tudo em prática — explica o pesquisador da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (DAPP/FGV) Amaro Grassi.

O tribunal será comandado pelo ministro Alexandre de Moraes, nome considerado mais rigoroso no tema. Ele é relator de inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF) contra fake news e ataques a instituições democráticas, tidos como pontos de pressão contra bolsonaristas e as plataformas e nos quais já determinou prisões e buscas e apreensões.