Título: Diversão levada a sério
Autor: Marcelo Nóbrega
Fonte: Jornal do Brasil, 22/11/2004, Internet, p. A20

EGS Brasil, primeira grande feira de jogos eletrônicos no país, amadurece o mercado

Durante quatro dias, São Paulo foi o centro da diversão eletrônica. A primeira edição brasileira da EGS, Electronic Game Show, marcou o início do amadurecimento do mercado de jogos no país, que sofre com o alto índice de pirataria e de impostos que inibem as empresas do setor. No primeiro dia do evento, considerado o maior da América Latina, uma mesa redonda discutiu os principais problemas da indústria. Representantes do mercado como Bertrand Caudron, diretor da Electronic Arts, maior distribuidora de games do mundo, e Milton Beck, diretor da divisão Home and Entertainment da Microsoft, encararam o secretário de audiovisual do Ministério da Cultura, Orlando Senna, e outros participantes. O governo brasileiro apóia claramente o software livre e uma proposta alternativa para o direito autoral, com o desejo de levá-la aos games.

A primeira empreitada foi o concurso Jogos BR, para a produção brasileira, que teve sua primeira fase encerrada na sexta-feira passada. A indústria quer manter o mesmo modelo de negócio existente em todo o mundo, que protege a criação dos games, impedindo a sua cópia e modificação sem autorização.

- O custo de um game está entre US$ 1 milhão e US$ 15 milhões. Duvido que empresas façam jogos para distribuí-los de graça - provocou Caudron.

Senna rebateu afirmando que o direito autoral tem mudado e que precisa ser repensado. Mas reconheceu que o governo não tem uma proposta definida, e que queria ''mais ouvir do que falar''.

Para a indústria, os problemas imediatos são a pirataria e os altos impostos do setor. Beck, em entrevista ao JB, citou dados recentes da consultoria McKinsey.

- De 10 jogos instalados nos HDs brasileiros, apenas um é original. E a diversão eletrônica recebe cerca de 60% de taxação.

No debate, Caudron disse que o mercado de videogames no Brasil não é ''oficial''.

- Os impostos são maiores que os de PCs, DVDs e até videokês, e variam entre Estados. A indústria quer terreno favorável para se instalar.

Segundo Beck, existe 1 milhão de consoles no Brasil, sendo 800 mil da última geração, composta por PlayStation 2, XBox e Gamecube. Eles não são vendidos oficialmente pelas suas fabricantes, mas apenas por importação, muitas vezes ilegal.

Mas a EGS também trouxe boas notícias, como os 36 finalistas da primeira etapa do Jogos BR. Deles, 23 planejaram jogos com temáticas brasileiras. Um deles, o estudante de Design amazonense Sylker Teles da Silva, formatou um sonho da faculdade com Ayri, aventura 3D de um guerreiro indígena.

- O apoio do governo é fundamental. Acho que as propostas livre e proprietária podem conviver juntas - disse o manauara. Dos 36 finalistas, oito receberão incentivos para a criação de versões de demonstração do game.

Eurico Junior, de Ribeirão Preto (SP), foi um dos mais festejados. Seu jogo, Capoeira, simula a luta brasileira e conhecida em todo o mundo.

- Para a demo, quero filmar uma roda de verdade e passar os movimentos para o computador - explicou Junior.

O evento também mostrou uma produção brasileira ambiciosa. Taikodom é um game de ação espacial persistente, jogado apenas pela internet, com o pagamento de uma mensalidade. Criado pela empresa catarinense Hoplon, permitirá que o piloto e internauta compre naves, comercialize com estações espaciais e se transforme em pirata. Até o motor gráfico é nacional, uma versão modificada do Fly 3D, da empresa Paralelo, de Niterói.

- Começamos o trabalho em janeiro e, em março de 2005, Taikodom entrará em fase gratuita de testes, para até 20 mil jogadores - contou Tarquínio Teles, presidente da empresa.

O executivo, que estima em R$ 1 milhão o investimento para concluir o projeto, espera que os jogos eletrônicos sejam tratados como o cinema, com incentivos do governo e a participação da iniciativa privada.

- O software livre é bom para a academia, para a formação de profissionais. O jogo produzido e exportado traz dólares ao Brasil, num mercado que não pára de crescer - afirmou Teles.

Fora da EGS, outra notícia mostrou que o mercado brasileiro da diversão eletrônica começa a se formar. A Nvidia, líder da fabricação de chips gráficos, anunciou sua entrada no Brasil. Steven Koch, gerente para a América Latina, escolhe o executivo local e anunciou duas iniciativas na sexta-feira passada, em São Paulo:

-- Um programa de descontos para LAN houses, que terão o melhor hardware para suas atividades. E uma aproximação com os parceiros nacionais, que inclui a fabricação local das placas de vídeo, com Gigabyte/Digitron e a Biostar/Flextronics.

O objetivo da Nvidia é um preço entre 10% a 15% mais caro que o do mercado cinza, mas com assistência técnica local.