Título: Hamas divide turcos
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Fonte: Jornal do Brasil, 18/02/2006, Internacional, p. A14

A imprensa turca qualificou como uma ''visita bomba'' a viagem surpresa de representantes do Hamas à Turquia, país aliado dos EUA e de Israel e o primeiro não-árabe a ser visitado desde a vitória nas eleições palestinas. Vários jornais destacaram, além disso, o fato de que os membros da delegação, liderada pelo número um do grupo, Khaled Meshaal, não foram recebidos oficialmente ontem pelo primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan.

''A bomba do Hamas'', ''Não-reunião com Erdogan, mas há quatro recomendações ao Hamas'', ''Ocidente pressionou e Erdogan cancelou'', foram algumas das manchetes da imprensa local. Vários comentaristas garantiram ainda que os líderes do Partido da Justiça (do governo) e o Desenvolvimento (AKP) que se reuniram com a delegação do Hamas pediram que o grupo se afaste da violência, reconheça o Estado de Israel e os acordos de paz firmados até hoje.

Meshaal disse, após se reunir com o ministro de Exteriores turco, Abdullah Gul, que a delegação recebeu recomendações ''muito úteis'' do chefe da diplomacia, sem especificar sua natureza. Também afirmou que o motivo da visita era trocar pontos de vista com a Turquia depois que o povo palestino os ''honrou'' com a vitória, além de agradecer o reconhecimento do governo.

A visita dos representantes do Hamas ocasionou uma confusão na Turquia sobre quem os convidou, e várias redes de televisão locais apontaram hoje que Mashaal e seus acompanhantes estão decepcionados pela negativa de Erdogan de recebê-los.

Abdullah Gul explicou que se reuniu com os palestinos como um membro do AKP, e não como ministro, mas Meshaal insistiu em que a visita respondia a um convite do governo turco.

Por sua parte, o Ministério de Exteriores disse, em princípio, que não tinha convidado o Hamas de forma oficial, embora tenha dito posteriormente que a organização havia encaminhado um pedido para visitar Ancara e que a solicitação foi aceita ''no marco do papel construtivo da Turquia no Oriente Médio''.

Alguns comentaristas, como o islamita Yeni Safak, elogiaram a chegada do grupo ''depois que os ocidentais fecharam suas portas a eles''.

- É correto aceitar o Hamas em Ancara? - perguntou Mehmet Ali Birand, no Turkish Daily News . ''É melhor não fechar as portas e tentar fazer com que (o Hamas) participe do processo de pacificação no Oriente Médio''. Taha Akyol, do Milliyet , considerou a recepção aos dirigentes um erro grave e classificou Meshaal como ''líder terrorista''.