Título: Reedições e inéditos na comemoração
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 18/02/2006, Idéias & Livros, p. 1

Incansável observador que tudo registrava em caderninhos, romancista de fôlego e contista desde a adolescência, Guimarães Rosa marcou a literatura brasileira com personagens como Riobaldo, e sua paixão proibida, e Augusto Matraga, que só alcançou a redenção com a morte. Para os apaixonados pelo tímido mineiro foi pouco: contos publicados em revistas médicas, diários de sua trajetória como diplomata e anotações sobre dezenas de obras permanecem inéditos em livro.

Se não faltam leitores interessados, as negociações com os herdeiros dos direitos autorais do escritor jamais foram tranqüilas, e por isso, raras são as novas publicações. Para tristeza dos iniciados rosianos, que deverão ter acesso a apenas um volume de inéditos a sair pela Nova Fronteira:

- Vários contos publicados por Rosa na revista O cruzeiro serão reunidos em um volume, textos fundamentais da formação do escritor. Temos interesse em publicar seus diários de guerra e as cadernetas que estão no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), entre outras coisas, mas nunca é uma negociação fácil - reconhece o editor Carlos Augusto Lacerda.

Se faltam inéditos, reedições podem aplacar o desejo por curiosidades ou ainda garantir na estante um clássico rosiano pela metade do preço. Na comemoração dos 50 anos de publicação de Grande sertão: veredas, a obra chega às livrarias em duas versões com texto integral: luxo e popular. A primeira, com concepção gráfica de Bia Lessa, traz alterações feitas por Guimarães ao longo das edições e suas famosas experiências de linguagem. A versão para estudantes promete acabar com as cópias xerox: sem perder em texto custará R$ 28, metade do preço médio do clássico.

Além dos originais, estudos acadêmicos e releituras abordam desde os romances mais famosos como Grande sertão até os poemas de Magma. A partir do romance cinqüentão e dos contos de Sagarana, escritores contemporâneos recriaram Rosa em novos textos, que serão lançados pela Garamond (ver matéria na página 13).

Na academia, tem destaque a reunião de ensaios apresentados no ano passado na terceira edição do Seminário Internacional Guimarães Rosa. Segundo a organizadora do evento, Lélia Duarte, as análises somam 900 páginas de ensaios, apresentados por estudiosos de dez nacionalidades.

- Os estudos são os mais variados possíveis, tratando da geografia da obra, da poética e das correlações das histórias de Rosa com a psicanálise, o cinema, a fotografia e até mesmo a arquitetura - conta Lélia.

Aleilton Fonseca, incansável estudioso rosiano da UEFS, quis ir além dos ensaios acadêmicos e aceitou o desafio de um romance. Com a liberdade conferida pela ficção, ele fala acerca do imaginário sertanejo, matéria-prima de Grande sertão, também fonte do seu Nhô Guimarães ( ver trecho na página 13).

- A narração das viagens de Rosa é feita por uma sertaneja idosa que, ao mesmo tempo, conta a história dela - explica o autor, que, com sua protagonista, revisita as veredas que há 50 anos ganharam vida graças à pena de Nhô Guimarães.