Título: Petrobras: um poço de lucros
Autor: Sabrina Lorenzi
Fonte: Jornal do Brasil, 18/02/2006, Economia & Negócios, p. A17

Nem os mais entusiastas analistas acertaram: a Petrobras lucrou no ano passado R$ 23,75 bilhões, 40% mais que em 2004. Antes da divulgação do lucro recorde, no mercado, falava-se em cifras de R$ 21 bilhões a R$ 22,5 bilhões. A fortuna alcançada supera em três vezes o orçamento previsto para o Ministério da Educação e para o Bolsa-Família, preparados para desembolsar cerca de R$ 8 bilhões cada um. Foi o que a petroleira lucrou apenas no quarto trimestre, num salto de 92% ante o registrado no último trimestre de 2004.

O lucro da estatal no ano passado, equivalente a US$ 10,1 bilhões, é o maior já registrado por uma empresa de capital aberto na América Latina, segundo a consultoria Economática, superando a estatal venezuelana PDVSA (US$ 9,4 bilhões). Para se ter uma idéia do resultado obtido pela petroleira no ano passado, o lucro equivale ao valor de mercado da Arcelor Brasil (CST, Vega do Sul e Belgo Mineira juntas).

As dezenas de bilhões obtidas põem em xeque a tese de que a estatal prejudica os acionistas ao não repassar sistematicamente os preços internacionais de petróleo e derivados para o consumidor brasileiro. As cotações do barril de petróleo cresceram em média 50% ao longo de 2005, enquanto a estatal reajustou o preço da gasolina em 10% e encareceu o óleo diesel em 12% para brasileiros. As vendas de combustíveis no mercado interno cresceram em média 2%, fazendo com que a receita líquida da companhia chegasse a R$ 38,6 bilhões no ano passado.

As exportações de petróleo dispararam 46%; as de derivados 6%. O salto rendeu à Petrobras a antecipação da auto-suficiência em volume de petróleo e derivados. A estatal vendeu 58 mil barris a mais do que comprou.

A balança positiva em termos de volume foi atingida graças ao aumento da produção. Em 2005, a produção média de petróleo no país foi de 1,684 milhão de barris por dia, 13% acima do produzido em 2004. Para tanto, a companhia estreou novas plataformas nos campos e Marlim Sul, Barracuda e Caratinga. A produção nacional de gás natural aumentou 3% em relação a 2004, apresentando uma média de produção de 274 mil barris/dia em 2005.

Por outro lado, a escalada dos preços do petróleo no mercado internacional elevou os gastos com produção. O custo de extração (lifting cost) unitário no país em US$/barril, sem as participações governamentais, aumentou 34% em 2005 em relação ao ano anterior.