Título: Denúncias correm risco de parar no arquivo morto
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 20/02/2006, País, p. A2

A dois meses do término da CPI dos Correios e da conclusão dos processos de cassação no Conselho de Ética, parte das investigações propostas no início dos trabalhos foi deixada de lado, outras denúncias caminham a passos lentos com alta probabilidade de terem como destino o arquivo morto do Congresso Nacional. A CPI do Mensalão, por exemplo, negligenciou a declaração feita pelo presidente do PL, Valdemar Costa Neto, de que o ex-ministro das Comunicações, o deputado Eunício Oliveira (PMDB-CE) teria participado das negociações para o recebimento de recursos do valerioduto. O caso nunca foi investigado.

O deputado Gonzaga Patriota (PSB-PE) passou incólume pelo escândalo que derrubou o ex-presidente da Câmara Severino Cavalcanti. O deputado seria o intermediador entre Severino e o empresário Sebastião Buani. Nas conversas, ficou acertado que Buani pagaria propina a Severino para manter aberto seu restaurante na Câmara. Patriota teria recebido parte dos recursos.

Na CPI dos Correios, o caso Coteminas foi abandonado. A empresa recebeu R$ 1 milhão por camisas entregues para a campanha de 2004. O dinheiro teria como origem as contas do empresário mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza. A Polícia Federal iniciou as investigações, mas a CPI não se moveu.

O empresário Daniel Dantas, apontado inicialmente como um dos financiadores do mensalão depôs uma vez às CPIs dos Correios e Mensalão. No entanto, nenhum dos dados considerados importantes para as investigações chegaram ao Congresso Nacional.

Um dos requerimentos pedia o repasse de informações contidas no computador do Opportunity, empresa de Dantas e que controlava empresas de telecomunicações com contratos firmados com as agências de publicidade de Valério.

A ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Ellen Gracie concedeu liminar que impede a abertura das informações. Apenas o deputado Jamil Murad (PC do B-SP) faz questão, a cada sessão da CPI, de lembrar aos demais integrantes que o assunto está parado.

O suposto empréstimo concedido ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo PT é outro mistério que pode permanecer ao final da comissão. As CPIs dos Bingos e dos Correios focaram a apuração sobre o presidente do Sebrae, Paulo Okamoto, que diz ter pago os recursos em favor do presidente. No entanto, deixaram de chamar a secretária Solange Pereira, que teria intermediado os pagamentos. Além de o Supremo Tribunal Federal ter impedido a quebra de sigilo bancário e telefônico do amigo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.