Título: Israel impõe restrições à ANP
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Fonte: Jornal do Brasil, 20/02/2006, Internacional, p. A14
Israel decidiu suspender as relações políticas e as transferências de fundos à Autoridade Nacional Palestina (ANP). Segundo o primeiro-ministro Ehud Olmert, a medida vai entrar em vigor assim que o governo palestino de transição for encerrado.
Estima-se que deixarão de ser repassados US$ 50 milhões correspondentes aos direitos alfandegários e impostos sobre as mercadorias que transitam nos territórios palestinos. As taxas são uma determinação do Acordo de Paris de 1995 (protocolo econômico e financeiro do Acordo de Oslo).
O premier afirmou que a ANP está se transformando em uma ''entidade terrorista'' e que sob essas circunstâncias não há possibilidade de negociação.
- Israel não vai manter contato com um governo em que o Hamas exerça uma função, sendo esta pequena, grande ou permanente - afirmou Olmert.
O porta-voz do ministro das relações Exteriores de Israel Mark Regev declarou que vai apelar aos doadores internacionais que adotem a mesma posição.
- A lógica é clara: com um grupo terrorista no comando do território palestino, ninguém pode assegurar que não vamos ver esses fundos usados para nos assombrar em forma de terroristas suicidas.
A decisão ocorre logo depois que os apelos do presidente da ANP, Mahmoud Abbas foram rejeitados pelo movimento islâmico. Em discurso, apelou para que o Parlamento reconhecesse os acordos de Oslo e o Estado de Israel.
Ainda não está claro, no entanto, se a mesma atitude será tomada em relação à presidência da ANP, dada a postura de Abbas que considera o diálogo como a única via para resolver o conflito palestino-israelense.
Além de deixar de pagar as taxas à ANP, Israel vai intensificar as inspeções de segurança nos postos de controle entre Israel e na Faixa de Gaza. Serão impostas ainda restrições de circulação aos membros do Hamas nos territórios da Cisjordânia sob controle israelense. A transferência de equipamentos para as forças de segurança palestinas também vai ser suspensa.
O Hamas é responsável por cerca de 60 homens-bomba e por centenas de ataques contra Israel. Os Estados Unidos e a União Européia classificam o grupo como uma organização terrorista.
Em reação à medida, o líder do partido Ismail Haniyeh, nomeado ontem oficialmente para o cargo de primeiro-ministro, declarou que as ameaças não o assustam.
- A decisão israelense tem o objetivo de nos dobrar, e no passado já demonstramos que podemos enfrentar os desafios necessários. Por isso, não há razão para não seguir enfrentando desafios no futuro.
De acordo com o porta-voz da organização terrorista na Faixa de Gaza, Sami Abu Zuhri, as restrições ''não vão afetar a determinação do movimento de continuar com o que faz''.
- Tomaremos todas as medidas possíveis para evitar as sanções econômicas e de segurança que Israel impôs aos palestinos - ressaltou. - Buscaremos ajuda econômica árabe e islâmica para nosso povo.
Abu Zuhri pediu ainda à comunidade internacional que ''impeça as ações opressivas que Israel exerce sobre os palestinos. ''
Abbas, por sua vez, disse que a ANP enfrenta uma grave crise financeira devido à redução da transferência de fundos sofrida desde a vitória do Hamas nas eleições legislativas palestinas.