Título: Saiu muito caro
Autor: Renata Moura, Josie Jeronimo e Mariana Santos
Fonte: Jornal do Brasil, 19/02/2006, País, p. A2

Durou 61 dias a convocação extraordinária mais cara dos últimos anos. Consumiu cerca de R$ 100 milhões em apenas 15 sessões de votação. O eleitor, entretanto, terá uma certeza: não vai mais pagar nem um tostão caso os congressistas precisem arregaçar as mangas para fazer aquilo que não fizeram durante o ano legislativo. Mas levando em conta os numerosos benefícios recebidos pelos parlamentares, falar em tostões parece provocação. Cada deputado brasileiro custa R$ 1,14 milhão aos cofres públicos ao ano. Com o descrédito da população por causa de sucessivos escândalos de corrupção, o Congresso teve de abrir mão de algumas regalias. Aprovou até o projeto de lei que reduz o recesso parlamentar de 90 para 55 dias. Necessária para compensar a paralisação provocada pelas denúncias de corrupção, a convocação de dois meses foi endossada pelos presidentes Aldo Rebelo (PCdoB-SP), da Câmara, e Renan Calheiros (PMDB-AL), do Senado. A justificativa era dar rapidez às investigações do mensalão, mas o rendimento das frentes que apuravam as denúncias não foi lá o que se esperava.

O Conselho de Ética tentou nas duas últimas semanas andar em passos um pouco mais largos, mas a convocação terminou sem que nenhum deputado com o mandato pendurado passasse pelo crivo do plenário. As CPIs do Correio e dos Bingos também não aceleraram o suficiente.

A votação do Orçamento ¿ mais uma justificativa apresentada para a convocação ¿ foi outro vexame. Da pretensiosa pauta de mais de 90 itens apresentada pelo presidente da Câmara, pouco mais da metade foi discutida no plenário. Entre votações destacam-se o fim da verticalização, que permite alianças partidárias diferentes na esfera nacional e estadual, e a criação do Fundo de Manutenção para a Educação Básica (Fundeb).