Título: Brasil pretende levar álcool para o mundo
Autor: Lorenna Rodrigues
Fonte: Jornal do Brasil, 19/02/2006, Economia & Negócios, p. A20

Mais novo vilão nas bombas de combustível do Brasil, o álcool está nos planos mais ambiciosos do governo no comércio internacional. O país pretende transformar o produto em commodity, a partir da venda para Estados Unidos, Venezuela, Paraguai, China, Índia e Coréia do Sul.

- Uma série de fatores contribuem para fazer desse o momento certo para o álcool. O mundo demanda um combustível limpo, o preço do petróleo está altíssimo e o álcool é a única alternativa de combustível que pode ser produzida em escala no momento - afirma o secretário de Desenvolvimento da Produção do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Antonio Sergio Martins.

O governo já dá como certa a exportação do combustível para o Japão, ainda em negociação, que deve ser o pontapé do álcool lá fora.

- Ainda estamos negociando todo o processo para que haja a exportação para aquele país, mas a sinalização de que isso acontecerá já está dada - afirmou.

Para acelerar a partida do álcool no Japão, o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan embarca para o Japão em abril, onde tem marcada uma reunião com o ministro de energia do país asiático.

A exportação de etanol para o Japão significa um acréscimo de 1,8 bilhão de litros nas vendas externas, caso o país adote uma adição à gasolina de 3%. Isso representa mais da metade da exportação total do produto brasileiro no ano passado, que foi de 2,6 bilhões.

- O álcool não é como um carro que você exporta e a pessoa no outro país liga e sai andando. Você não exporta só o produto, o país comprador tem que entender toda a logística que envolve a venda do produto - explica.

O combustível brasileiro se destaca mesmo se comparado a outras fontes alternativas, como álcool de milho e beterraba.

- Nosso custo de produção é menor e a eficiência energética, maior - garante.

Martins explica que a intenção do governo brasileiro não é apenas exportar etanol, mas estimular a produção do produto em outros países.

- Queremos transferir a tecnologia brasileira, abrir mercados e criar um fluxo de capital para atrair investidores estrangeiros - revelou Martins.

Na semana passada, representantes de 11 países da América Central vieram ao Brasil para conhecer o programa de produção do etanol. Na ocasião, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) poderia financiar empresas brasileiras na produção do álcool em outros países.

- O investimento do banco seria um dos elementos mais relevantes para a expansão do produto brasileiro no exterior. Isso contribuiria para a internacionalização das empresas do Brasil - acredita.

Nesta safra 2005/2006, a produção deve atingir 17 bilhões de litros, com 5,8 milhões de hectares de cana-de-açúcar plantada. Em relação à 2004, as exportações do produto cresceram 11,7% em volume e 52,8% em dólares, alavancadas pela expansão do preço do álcool lá fora. Estão sendo construídas 40 novas usinas, o que significa uma produção de sete bilhões de litros a mais.

- O Brasil domina a tecnologia de toda a cadeia produtiva do álcool desde a plantação até o transporte e armazenamento. Nesses 30 anos, nos especializamos não só em produzir o combustível, como também equipamentos relacionados à produção. Quem vai usar álcool precisa de um navio para transportar, por exemplo - aponta.