Título: Chávez: sete anos de fracasso
Autor: Teodoro Petkoff
Fonte: Jornal do Brasil, 19/02/2006, Outras Opiniões, p. A11

Ser rico é ruim, diz Chávez. Pior é ser pobre, diz o senso comum. Quando muita riqueza anda lado a lado com muita pobreza na mesma sociedade, há uma desigualdade que clama a Deus. Há uma enorme injustiça que logicamente castiga os pobres, e não os ricos. Isso é o que ocorre hoje em nosso país. A diferença de renda entre os que ganham mais e os que ganham menos aumentou ainda mais neste período de governo. O abismo entre os mais ricos e os mais pobres se aprofundou muito. Temos a pior distribuição de renda de toda a América Latina.

A desigualdade social se acentuou durante a ''revolução bonita'', que hoje, por acaso, faz sete anos. Sete anos de grande fracasso, que coincidem com os de maior receita já conhecidos por este país em toda a sua história.

Nem ao menos esse salão de beleza, com sua sala de maquiagem, em que se transformou o Instituto Nacional de Estatística, pode dissimular esta realidade espantosa. A bolsa das missões, equivalente à metade do salário mínimo (cerca de 200 mil bolívares), sem dúvida melhorou relativamente a renda dos mais pobres porque, para quem não tem nada, isso já é uma ajuda. Porém, os negócios lícitos e ilícitos realizados atualmente no calor da bonança do petróleo aumentaram até as alturas siderais as rendas já elevadas dos mais ricos, entre os quais se encontra hoje uma nova camada de multimilionários, bolivarianos sem dúvida, porém devido aos bolívares.

A desigualdade crescente impede a igualdade de oportunidades. Os ricos e os pobres não partem do mesmo ponto de largada na corrida da vida. Os pobres já começam em desvantagem, e essa desvantagem lhes dá menos anos de escolaridade, muito menos preparação e aptidões para o trabalho, menos formação para desfrutar os bens espirituais da vida, pior nutrição ? além de colocá-los em um ambiente que é a própria negação da vida civilizada.

As oportunidades para um garoto morador de Carapita não são as mesmas que a de um residente de La Castellana.

Eis o grande fracasso deste governo: em sete anos tornou o país ainda mais desigual do que aquele que encontrou; hoje são menores as oportunidades para os mais humildes e desamparados.

Para construir um país de igualdade e justiça é necessário que as pessoas tenham trabalho digno, educação digna e previdência social digna. Isso requer a criação de fontes de trabalho, aumentando os investimentos que geram emprego, em lugar de destruí-los, como se fez ao longo desses sete anos.

Isso exige ênfase na educação pré-escolar e no ensino fundamental, exige alta qualificação dos educadores e uma programação em que nenhuma criança fique fora da pré-escola e do ensino fundamental. Aí estão as crianças de rua como terrível testemunho do fracasso.

Todos devem contar com uma previdência social que garanta aposentadorias dignas e igualitárias. O governo já está há sete anos em dívida com a rede de proteção social.

É um fracasso indigno de um governo que se diz de avanço social.

Sete anos eram mais que suficientes para ter progredido em todos esses aspectos. Outros países o conseguiram. Nós retrocedemos. Fracasso é o nome do jogo.

Teodoro Petkoff é editor do jornal Tal Cual. Foi ministro do Planejamento da Venezuela, no governo de Rafael Caldera.