Título: Casal é suspeito de fraudar fundos de pensão
Autor: Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 21/02/2006, País, p. A2

Ela se diz dona-de-casa. Ele afirma que declara Imposto de Renda como isento. O casal tem 85 imóveis no Rio de Janeiro, incluindo um sofisticado apartamento com mais de 400 metros quadrados no Condomínio Golden Green, na Barra. Ela é Rogéria Costa Beber, ex-assessora do vereador Fernando Gusmão, do PCdoB do Rio. Ele é Murilo de Almeida Rêgo, que declarou ter sido assessor parlamentar do então deputado Lindberg Farias, hoje prefeito de Nova Iguaçu. Sob olhares estupefatos de parlamentares e assessores do Congresso, eles prestaram depoimento ontem na CPI dos Correios. São investigados por suspeita de aumentar o patrimônio em operações financeiras fraudulentas, que deram prejuízo a fundos de pensão. Parte do lucro destas operações, que envolvem várias corretoras, teria sido repassada a políticos.

- Foi montado um esquema para gerar perdas nos fundos e ganhos para determinadas instituições financeiras. Há conteúdo de natureza política - explica o sub-relator, deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA).

Apesar dos numerosos imóveis e dos investimentos maciços no mercado financeiro, a declaração de Imposto de Renda do casal, feita no nome de Rogéria, soma R$ 6 milhões. Conhecido como Pororoca, Murilo explicou aos deputados que tem ''transtorno bipolar de humor'' e pode a qualquer hora entrar em estado de euforia ou depressão. O deputado ACM Neto passou toda a sessão preocupado com uma possível reação do investigado.

Foi graças ao transtorno bipolar de humor que Murilo diz ter começado a operar em nome da companheira no mercado financeiro. Minutos depois, ele mesmo se contradisse e revelou que não pode operar graças à falência do bingo eletrônico Flabingol, do qual era sócio. Murilo conta que tinha a tarefa de acompanhar Lindberg em jantares políticos. O prefeito de Nova Iguaçu diz que Murilo jamais foi seu assessor, apenas ''amigo''.

Rogéria relatou que cuidava da agenda de eventos do vereador Gusmão e conta que chegou a doar R$ 20 mil para o chefe vereador. O vereador não foi encontrado, ontem. Apesar de não ter nenhuma conta bancária em seu nome desde 1996, Murilo utiliza um cartão de dependente da mulher para distribuir dinheiro para os amigos, inclusive para os companheiros da praia.

- Sempre fui rico, deputado. Nunca fui pobre - desdenha Murilo.

O casal é bem relacionado também com integrantes do PT investigados por envolvimento no rombo dos fundos. Murilo é amigo de Marcelo Sereno, ex-assessor da Casa Civil que nomeava dirigentes de fundos de pensão. Também amigo do polêmico ex-presidente da Casa da Moeda do Brasil Manoel Severino, que embolsou R$ 2,6 milhões distribuídos por Marcos Valério, o operador do mensalão. Murilo nega a existência de esquema na área de investimentos dos fundos para repassar dinheiro a políticos.

- Sou um especulador - defende-se.

Murilo não vê nenhum problema em ser sócio da empresa Arbor, investigada por envolvimento no esquema que sangrou os fundos. Diz que só pode responder pelos ganhos no mercado financeiro. Pelos prejuízos, diz, respondem os fundos. Na lista de investigados no mesmo esquema está José Carlos Batista, identificado pelos parlamentares como laranja da corretora Guaranhuns, também envolvida com a distribuição do mensalão. Murilo nega qualquer negócio com Batista.

- Deus me livre! - foi a expressão que usou.

Para o sub-relator ACM Neto, o casal teve movimentações financeiras incompatíveis com o patrimônio. Murilo diz que parcela de seu dinheiro foi presente do pai, que teria doado ao filho R$ 1,4 milhão.

- Eu pedi o dinheiro a ele, e ele me deu - explicou.