Título: Perillo no centro das atenções
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 21/02/2006, País, p. A3

Depois de ser deixado de lado pela cúpula do PSDB, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, sinalizou que está disposto a afagar os chamados ''excluídos do partido''. Ele se derramou ontem em elogios ao governador Goiás, Marconi Perillo, que se declarou contra o chamado triunvirato - composto pelo presidente do PSDB, Tasso Jereissati (CE), pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e pelo governador de Minas, Aécio Neves. O trio trabalha para decidir o nome do candidato tucano à Presidência da República. Ontem, Perillo esteve na Assembléia Legislativa do Rio, onde recebeu a Medalha Tiradentes, a maior comenda do estado, do presidente da Casa, Jorge Picciani (PMDB). - O governador (Marconi Perillo) é de uma área importante do país. É o único governador há oito anos no poder. Os governadores são parte importante desse processo - disse Alckmin.

O governador de São Paulo aproveitou a insatisfação da base para afirmar que a escolha do candidato não será tomada pelos caciques do partido.

- Eles (a cúpula) não vão decidir. Eles vão interpretar a opinião das bases do partido. Todos vão ser ouvidos - completou.

O prefeito de São Paulo, José Serra, chegou ao Rio de surpresa para acompanhar o evento. Mas não quis comentar as críticas do governador de Goiás ao processo de escolha do candidato do partido à Presidência. A cúpula do PSDB entende que Perillo é aliado de Alckmin e, por isso, Serra se deslocou para o Rio também para afagar o governador de Goiás.

Na semana passada, o trio deixou uma confraternização partidária para jantar com o prefeito José Serra, tido como o preferido pela cúpula tucana. Alckmin ficou de fora do encontro. Para compensar o desgaste, os caciques do PSDB devem se reunir amanhã com Alckmin.

- O encontro vai ser confirmado ainda. Será nesta semana, talvez amanhã - disse o governador de São Paulo.

Os sinais de que a cúpula pode tomar uma decisão de cima para baixo sem consultar as bases do PSDB deixam irritados vários integrantes do partido.

- O PSDB precisa dar uma demonstração de democracia. Sou o mais antigo governador do PSDB. Não admito que decidam por mim. Esse modelo encheu o saco de todo o partido - disse Perillo.

Diante da manifestação do governador de Goiás, Fernando Henrique Cardoso admitiu ontem a realização de prévias no partido. Ele disse, porém, que prefere que a escolha seja feita por consenso e ressaltou que a decisão não será tomada pelos três integrantes da cúpula tucana.

- Temos que ver se é necessário ou não fazer prévias. Acho que vamos chegar a um bom resultado antes de qualquer outra coisa. Se não formos felizes em criar uma situação favorável ao consenso, é claro que isso não vai ser resolvido por dois ou três. Tem que ser ouvido o partido, mais amplamente - garantiu Fernando Henrique, antes de participar do Congresso Mundial de Oftalmologia.

Apesar de se alinhar aos ''excluídos'', Geraldo Alckmin mudou de discurso e já cogita a possibilidade de não haver eleições prévias para escolher o candidato do partido à Presidência.

- Talvez não haja necessidade de prévias. Todos serão ouvidos e o processo é esse - disse.

A cúpula tucana já havia sinalizado anteriormente que preferia que a escolha do candidato se concretizasse sem a realização de prévias. Marconi Perillo, por sua vez, defende a realização de prévias. Ontem, no Rio, ele afirmou que, no mínimo, o partido teria de fazer uma consulta ampla, ouvindo governadores e senadores.